A construção de Arapiraca a partir da religião

Igreja Nossa Senhora Menina, de 1947. Foto: Arquivo

A religiosidade dos arapiraquenses surgiu desde quando as terras que hoje fazem parte do município de Arapiraca foram doadas a Manoel André Correia dos Santos. No início, no local onde foram sepultados os restos mortais de Maria Isabel da Silva Valente, sua esposa, em 1855, e depois sua sogra, Isabel da Rocha Pires, em 1873, ele construiu uma capela (a construção da capela terminou em 1864, sendo que a 1ª. Missa foi rezada em 02/02/1865, pelo padre Pedro Vital da Silva). Foi o primeiro ato extemporâneo de religiosidade de Arapiraca. Em 1905, início do século XX, alguns arapiraquenses, acreditando se redimir de inúmeros pecados, e da fúria dos céus que trouxeram a peste, em consequência dezenas de mortes, construíram a igreja de São Sebastião. Afora esses dois templos, surgiram outros, como a igreja de Santo Antônio (Cacimbas), a igreja de São José (Alto do Cruzeiro), a igreja de Nossa Senhora Menina (Cruz da Menina), igreja do Senhor do Bomfim, na praça Senhor do Bomfim (praça dos Curís).

Com os templos católicos, chegaram os religiosos. Um dos primeiros, senão o primeiro, foi o padre Pedro Vital da Silva (1854/1904), pároco de Limoeiro de Anadia, paróquia a que Arapiraca pertencia. Ele foi o fundador da capela de Nossa Senhora da Conceição, na localidade de Brejo dos Sulinos, também conhecido como Brejo dos Teófilos, hoje município de Coité do Nóia.

Igreja de Nossa Senhora Mãe Menina, 1947


A igreja Nossa Senhora Menina (no local onde morreu uma criança atropelada), surgiu em Arapiraca em 1947, mandada construir pelo prefeito Luís Pereira Lima, depois de, segundo a tradição, ter tido um pedido atendido em graça. A imagem de Nossa Senhora Menina veio do Rio de Janeiro, a pedido do pároco Epitácio Rodrigues (filho de Lagoa da Canoa), que em 1935 rezou sua primeira missa em Arapiraca, e foi pároco de 1944 a 1979, quando se aposentou.


Outro religioso foi o padre Maurício da Rocha (nascido em 1916, que, como pároco de Limoeiro de Anadia, era frequente nos atos religiosos de Arapiraca, auxiliando padre Epitácio Rodrigues. Arapiraca, durante muito tempo, foi o lar do padre Jeferson de Carvalho (natural de Coruripe, nascido em 1917), que, além de sacerdote, atuou por muitos anos lecionando nos colégios Nossa Senhora do Bom Conselho e São Francisco de Assis.
Não há como esquecer, neste pequeno ensaio, a figura do padre Antônio Lima Neto (1927/1980), professor e autor de livro (Recado para os meus Irmãos), um dos fundadores da Faculdade de Formação de Professores de Arapiraca. Era um cuidador de almas. Há, dentro da religiosidade dos arapiraquenses, a figura da Irmã Maria Helena (1917/1992, alagoana de Delmiro Gouveia), fundadora e primeira diretora do Colégio São Francisco de Assis.
Outras manifestações religiosas (cristãs evangélicas) surgiram, e permanecem, em Arapiraca, a saber: as igrejas Batista (avenida Rio Branco), Assembleia de Deus (rua Estudante José de Oliveira Leite), Cristã do Brasil – foi demolida (rua São Francisco), Presbiteriana do Brasil (rua Monsenhor Macedo), igreja Cristã Pentecostal do Brasil (rua Domingos Correia). Todas elas têm suas origens entre os anos 50 e 60.
Afora as igrejas cristãs, desde o início surgiu em Arapiraca diversas faces da religião africana, como terreiros de Candomblé, Quimbanda, Umbanda. Os seguidores do espiritismo kardecistas (de Alan Kardec), somente nos anos 70 é que construíram o Centro Espírita Companheiros de Emanuel (rua Estudante José de Oliveira Leite, bairro de Ouro Preto), fundado por Pedro Cavalcante e Florisval Magalhães.

Epitácio Rodrigues (1905 /2009)

Padre Epitácio Rodrigues. Foto: Arquivo


Monsenhor Epitácio Rodrigues é filho de Teotônio Melo e de D. Dolarice de Albuquerque Melo, sendo natural de Traipu. Nascido aos 18 de fevereiro de 1905, foi ordenado sacerdote em 24 de maio de 1931, em Maceió. Foi celebrante em Arapiraca a partir de 1935, tendo sido o primeiro pároco da Paróquia de Nossa Senhora do Bom Conselho, criada em 1944. Alí permaneceu até o ano de 1979, quando renunciou. Faleceu em 1999 e está sepultado na Igreja de São Sebastião. Em sua homenagem, Arapiraca escreveu:

“A MONSENHOR EPITÁCIO RODRIGUES
“18/02/1905 – 09/07/1999
“O reconhecimento e a gratidão do povo de Arapiraca, através do poder público municipal, por toda sua contribuição como servidor do “REINO” e como precursor do desenvolvimento integral do Cidadão/Cristão.
“Arapiraca, 09 de agosto de 1999.
“Ao 30º dia de seu viver a salvação em Plenitude”.

José Joaquim Maurício da Rocha

José Joaquim Maurício da Rocha. Foto: Arquivo


Nascido em Taquarana, vigário de Limoeiro de Anadia, viveu constantemente a vida religiosa de Arapiraca. Participou ativamente juntamente com os padres Epitácio Rodrigues e Jeferson de Carvalho da religiosidade arapiraquense. Era um religioso afável, bonachão e amigo. Foi vigário cooperador da paróquia de Traipú, vice-diretor do Ginásio Diocesano de Penedo, vigário da paróquia de Limoeiro. Padre desde 1942, era personagem constante na religiosidade do povo arapiraquense.

Pe. Jefferson de Lima Carvalho (1917/1971)

Padre José Jefferson de Lima. Foto: Arquivo

Sem dúvida, um dos grandes professores do Ginásio Nossa Senhora do Bom Conselho, onde lecionou francês nas décadas de 50/60. Era natural de Coruripe e, por muito tempo, padre auxiliar da igreja matriz Nossa Senhora do Bom Conselho, hoje …. Era enérgico e participou do desenvolvimento do município, como religioso e professor de reputação ilibada. O município de Arapiraca, num reconhecimento de seu trabalho em prol principalmente da juventude arapiraquense, o homenageou dando seu nome ao trevo rodoviário localizado na entrada da cidade, separando o centro ao bairro de Canafístula.

Antônio Lima Neto (1927/1980)

Antônio Lima Neto. Foto: Arquivo

Além de religioso, foi professor de português e latim(Ginásio N.S. do Bom Conselho, Colégio Estadual Quintela Cavalcante e Francisco de Assis). É de família humilde, nascido em Lagoa do Caldeirão, município de Palmeira dos Índios. Ordenado padre em 1951, foi pároco nas paróquias de Traipú, São Braz e Feira Grande, para, depois, assumir a paróquia de Santo Antônio, no bairro Cacimbas, em Arapiraca. Antes, foi capelão do Colégio São Francisco de Assis e coadjutor da paróquia N.S. do Bom Conselho. Humanista, com formação filosófica pela Faculdade de Letras e Filosofia, foi, também, um dos professores fundadores da Faculdade de Formação de Professores do 1o. Grau do Agreste, hoje UNEAL. Como escritor, foi publicado um livro post-morten (“Recados para os Meus Irmãos”), sendo patrono da cadeira no. 13 da ACALA – Academia Arapiraquense de Letras e Artes.

Lápide do Padre Antônio Lima Neto. Foto: Arquivo

Leonor Luna Linhares – Irmã Maria Helena (1917/1992)

Irmã Maria Helena. Foto: Arquivo

Fundadora do Colégio São Francisco de Assis, Leonor nasceu em Delmiro Gouveia (AL), tendo estudado os primeiros anos na cidade de Propriá (SE). Com apenas 15 anos, entrou no Convento das Irmãs Franciscanas Hospitalares da Imaculada Conceição, quando passou a se chamar de Irmã Helena do Espírito Santo. Após os votos, passou a viver em Penedo (AL), no Colégio Imaculada Conceição. Viveu, também, em 1945 em Aracaju, no Colégio Patrocínio de São José. Ainda como educadora, foi para Mossoró (Rio Grande do Norte), de onde retornou a Penedo. Em 1954, por solicitação do padre Epitácio Rodrigues ao bispo diocesano Dom Felício, foi designada para iniciar a construção do Colégio São Francisco de Assis. Faleceu em Aracaju, porém, a pedido do povo arapiraquense, aqui está sepultada.

Fonte: Eli Mário Magalhães e Manoel Lira

Produção Editorial: Roberto Baía e Carlo Bandeira