Meu nome “É Gal”! Assim, bradava, em alto e bom som, Maria da Graça Costa Penna Burgos; a famosíssima e amada por toda uma geração brasileira dos anos 1960/70; Gal Costa, a voz da Tropicália, movimento revolucionário do cancioneiro, do modo de cantar música tupiniquim.
Àquela época de ditadura militar, governo de mão forte, que atormentava os movimentos culturais genuinamente brasileiros, tinham em suas atrizes e seus atores, os endereços para a tortura e escárnios de suas artes. Uma arte que mirava a liberdade, o livre-arbítrio, e o direito de manifestação cultural.
Era a cultura brasileira mostrando a sua cara! O mundo ainda dominado por uma pequena elite burguesa. Algo em torno de 1% da população brasileira detinha a grande massa dos 99% da população nas mãos, no mais puro privatismo econômico e fundiário. Não mudou nada, ainda hoje. Continuamos nas mãos dos idólatras do ufanismo capital.
Não seja um mau presságio essa passagem inesperada da Gal.
Ela deixa este andar inóspito, que vive, agora, uma manifestação em favor da truculência, do separatismo, da falta de humanidade. Manifestação a favor da mentira, da falta de honra, da sobra de poder esconder o que denigre os signos da benevolência, solidariedade, humanismo e direito da fé em nós mesmos, a fé de sermos fruto de toda a força, sabedoria e poder da criação das coisas visíveis e invisíveis, das coisas sensíveis e insensíveis.
Vá, bela Diva, e diga a todas as forças e a todos os poderes, que estamos precisando de muita ajuda, de mais irradiação de luz dos astros e menos de luz própria de cada qual. Pois, esta luz própria é a que mais ilumina os tempos de hoje, muito principalmente, aqui, neste pedaço do andar de baixo.
Peço-lhe, antes de seu descanso eterno, quem sabe, uma ajudinha, junto aos poderes astrais, para que suas clarevidências nos poupe mais sofrimentos.
Agradecemos a vossa benevolência em nos alertar com essa voz, e de nos acalentar também, com a mesma voz que fortaleceu as nossas almas um dia.
Vá, e descanse um pouco essa garganta que nos tirou, muitas veze, do infortúnio da solidão, e outra vezes, abençoou a glória da criação.
Durma como uma anja, Gal dos pretos e brancos, dos ricos e pobres, dos filhos de Olorum.
Axé, Diva encantada da voz que encantou e ainda encantará!
Fonte: Jornal de Arapiraca / Carlo Bandeira