
Tatiane não conseguia permanecer de bruços e ou se deitar na cama para dormir. – Foto: Arquivo pessoal
São Paulo — Quase quatro anos após ter feito uma cesárea no Hospital da Luz, na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo, a cabeleireira Tatiane Freitas dos Santos, de 42 anos, vinha enfrentando dificuldade de carregar o filho no colo e realizar exercícios físicos.
Ela estava acostumada a sentir um incômodo na parte esquerda do seu abdômen, mas a sensação piorou depois que começou a praticar yoga. As dores eram tão agudas que Tatiane não conseguia permanecer de bruços e ou se deitar na cama para dormir.
Em setembro de 2024, Tatiane (foto em destaque) voltou ao Hospital da Luz para investigar o que estava acontecendo e descobriu que tinha um nódulo no abdômen.
Os médicos chegaram a cogitar que Tatiane tinha um tumor, mas exames mostraram que, na realidade, uma compressa cirúrgica havia sido esquecida no corpo da cabeleireira durante a cesárea.
O objeto foi deixado pela equipe médica em 2020 e só foi retirada em março deste ano, após uma liminar da Justiça ter obrigado o convênio médico da Amil a custear uma cirurgia fora do Hospital da Luz.
Anos de dor no abdómen
Tatiana realizou a cesárea no dia 13 de janeiro de 2020, ficou dois dias internada no hospital e recebeu alta sentindo dores, o que para o advogado da cabeleireira, Alessandro Zanete, foi o início de anos de sofrimento.
“Ela teve uma intercorrência bastante forte após a cesárea que foi relatada ainda quando ela estava internada, mas trataram como uma dor de cirurgia. Deram um medicamento e liberaram ela, sem fazer nenhum exame. E isso foi o início de tudo. Ela acabou voltando para casa e o corpo dela absorveu aquilo. Ela continuou sentindo a dor, a dor abdominal, mas foi administrando com remedinho, como a gente faz”, contou Zenete ao Metrópoles.
Em setembro de 2024, quando Tatiane voltou ao Hospital da Luz com muito desconforto, ela foi submetida a uma “ultrassonografia de abdome total”. Nesse exame, foi identificado uma “estrutura nodular” em seu abdômen, e solicitada uma tomografia computadorizada para avaliação.
A tomografia mostrou que havia um corpo estranho, que poderia ter “correlação com dados cirúrgicos prévios” em Tatiana. A partir disso, o advogado conta que a equipe médica do Hospital da Luz começou a tratá-la de forma estranha.
“Inicialmente, tinha um diagnóstico que poderia ser um objeto metálico, o que causou muita apreensão nela. Não entregaram nenhuma imagem dos exames e ela nos procurou para tentar um tratamento”, disse o advogado.
Retirada da compressa
Em dezembro do ano passado, a Justiça de São Paulo decidiu, em caráter liminar, que a Amli custeasse a retirada da compressa no Hospital Santa Catarina. A cirurgia foi realizada em março deste ano, mas Tatiane ainda não foi indenizada pelo erro médico.
Alessandro Zanete explicou que foi solicitada que a Amil pague danos materiais pelo tempo que a cabeleireira, que é autônoma, precisou parar de trabalhar para realizar as cirurgias.
Há também um pedido de indenização em danos morais pelo prejuízo imaterial causado pelo erro médico ao longo dos últimos anos. A Justiça ainda não decidiu sobre essas duas solicitações.
Mesmo sem a compressa no corpo, Tatiane ainda sente dores e precisará realizar tratamentos na região abdominal. Como o objeto ficou acoplada muito tempo em seu corpo, a cirurgia de retirada foi de risco, e tinha a possibilidade de que parte do seu intestino pudesse ser removido.
Por meio de nota, o Hospital da Luz afirma que “solicitou perícia médica à Justiça e que não houve, até o momento, decisão de mérito no processo judicial que está em curso”. O hospital diz, ainda, que está à disposição da Justiça para os esclarecimentos necessários.
Por Metrópoles