A LUZ ESTRELAR E UM NOVO TEMPO

Aprender com as plantas e as artes, as mais diversas artes, é um caminho extraordinário. Com as primeiras tenho exercitado a paciência. Elas não florescem quando quero. Cada uma tem o seu tempo ideal e eu preciso esperar. As segundas têm me posto a escrutinar sentimentos, conhecer meus circuitos de afetos, me conhecer melhor. Elas, plantas e artes, têm sido responsáveis pela síntese das luzes que recebo dos astros, que alimenta meu cérebro, que me acalma e me faz refletir sobre os tempos que estamos vivendo.

Meditando sobre isso arrisco-me na tentativa de prender o passado, é inútil, ele se foi. Tento então alcançar o futuro, mas isso não é possível, ele não veio.  O presente de destruição é o que tenho. O presente destruído é o palco das minhas escolhas. Dos meus acertos. Dos meus desacertos. No presente caos me encontro. Nele também, por vezes, me perco. Ainda assim, sucumbir diante das suas ameaças nunca foi opção, porque com Guimarães Rosa aprendi que “a vida é ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero (…) O que ela quer da gente é coragem”.

Coragem para decretar como fez o poeta Thiago Mello “que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança”. Ousadia para desobedecer o poeta e, mesmo tendo direito à sombra, girar como fazem os girassóis em um culto à luz. Audácia para quando, como canta Gilberto Gil, “os frutos produzidos pela terra ainda não forem tão doces e polpudos quanto as peras da minha ilusão, amarrar o meu arado a uma estrela e os tempos me darão safras e safras de sonhos, quilos e quilos de amor”. 

Rezarei para ser capaz de usar esse arado preso na estrela para revolver a terra e dela fazer brotar o amor e os sonhos que iluminarão as mentes e aquecerão os corações da maioria dos habitantes desse presente destruído. “Pois de amor andamos todos precisados, em dose tal que nos alegre, nos reumanize”, ouvi Drummond dizer.

Reumanizados, construiremos a primavera que não pode ser detida.  E se consideram que o caminho que aponto carece de luzes, tomo como meus os versos de Hilda Hilst, “se te pareço noturna e imperfeita. Olha-me de novo. Com menos altivez. E mais atento”. E se tiverem sucesso nesse exercício verão quão escuro está o seu entorno e descobrirão que, de fato, quando a estrela brilhou, o nosso lugar ficou iluminado. Fomos, no passado recente, faróis do mundo, em várias áreas.

Como Bilac poderão me dizer “ora direis ouvir estrelas! Certo perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto, que, para ouvi-las, muita vez desperto e abro as janelas”. Como os poetas Thiago Mello e Olavo Bilac abram também as suas janelas, sintam o cheiro dos novos tempos e vistam-se de esperança.  Estamos ainda na época do cultivo e enquanto não chega o dia da colheita, ouçam de novo Drummond “o tempo nos aproxima cada vez mais, nos reduz a um só verso e uma rima de mãos e olhos, na luz”. Naquela luz estrelar que não se apaga; que não se rende porque é o brilho dos olhos da nossa gente. Olha ela!! Lá…lá…lá