Em celebração ao Dia Nacional da Visibilidade Trans, o Espaço Trans do Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HUPAA) realizou uma ação educativa, na terça-feira (31), que consistiu na distribuição de uma cartilha para o público interno e externo do HU. O texto traz desde a história relativa à data, 29 de janeiro, até práticas que podem ser exercidas no dia a dia para evitar a transfobia e abordar adequadamente pessoas trans.
Para a assistente social do Espaço Trans, Raquel Vieira, a educação, além de uma forma de esclarecimento, insere a temática da transexualidade como algo presente de maneira natural na sociedade, sem tabus. O esclarecimento e a empatia, juntos, tiram as ‘vendas’ da discriminação. “O intuito da campanha é mostrar ao público geral que as pessoas trans não se resumem apenas ao seu gênero, são iguais a todos e têm muitas capacidades, possuem condições de atuar em todos os espaços de trabalho e de vida tanto quanto as pessoas cis. A ideia da visibilidade trans é ajudar as pessoas a se comunicar sem preconceito, de maneira a tornar o SUS o mais universal possível”, argumenta.
O Espaço Trans do HU é um local que funciona como parte do aprendizado de estudantes e residentes, para que eles tenham, em sua formação, abordagens adequadas em respeito às especificidades da população trans, e melhorem suas práticas cotidianas enquanto profissionais. É dotado de equipe multidisciplinar, composta por endocrinologista, enfermeira, psicóloga, assistente social, técnica em enfermagem e estagiários de Psicologia. Nele, além de receber estagiários de Psicologia, que também atuam na promoção da saúde e no atendimento ao paciente, são recebidos os profissionais das residências de Psiquiatria. A equipe já teve visitas de residentes de Pediatria, Psicologia e Serviço Social, e está aberta ao processo de ensino e aperfeiçoamento profissional.
Para receber acompanhamento, a porta de entrada é a Unidade Docente Assistencial (UDA) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). A pessoa interessada passa pela equipe da UDA, que encaminha, via Sistema de Regulação, ao HU. Ao chegar no Hospital, é feito um primeiro acolhimento, por assistente social, psicóloga, enfermeira e auxiliar de enfermagem. Na abordagem, os profissionais realizam uma entrevista sobre história de vida do indivíduo, em sequência, encaminham para a endocrinologista para fazer os exames e avaliações necessárias ao processo de hormonioterapia e/ou outros encaminhamentos.
Segue, abaixo, o texto da cartilha do Espaço Trans sobre abordagem.
COMO ABORDAR PESSOAS TRANS?
1. Perguntar como a pessoa prefere ser chamada, reconhecendo seu nome social ou de registro retificado;
2. A cirurgia de afirmação de gênero é um procedimento que nem todas as pessoas trans anseiam e se sentirão incomodadas com o questionamento se a intervenção para mudança de sexo foi feita. É importante esclarecer que identidade de gênero é autodenominação pelo IBGE, assim como cor de pele.
3. Muitas pessoas trans usam perucas como forma de caracterização, portanto, puxar ou tocar o cabelo sem consentimento pode fazer com que o acessório caia e gere constrangimento.
4. Afirmar que uma pessoa “não parece trans”, ainda que expressado sem a intenção de ofender, não é considerado um elogio, já que desnaturaliza a transexualidade.
5. Drag Queens são pessoas que se vestem para uma apresentação e interpretam uma personagem, portanto o questionamento “você se veste 24horas de mulher?” confunde travestis e transexuais e pode ser considerado constrangedor.
6. Homens trans em processo de transição usam faixas ou binder para esconder o formato dos seios. Portanto, não se deve questionar sobre o procedimento ou tentar tocar estas partes sem permissão. Os que já retiraram as mamas, possuem cicatrizes das mastectomias, então, o questionamento a respeito dessa remoção também é indelicado.
7. Identidade de gênero e sexualidade são coisas distintas. Portanto, pessoas trans nem sempre são heterossexuais.
8. A menos que a pessoa trans se sinta confortável, não é recomendado pedir fotos antes da transição.
9. Evitar questionamentos sobre preferências sexuais.
10. Pessoas trans também se relacionam, fazem amigos e desejam viver em sociedade. Não é necessário sentir-se coagido ao receber contato visual ou qualquer tipo de interação.
Por Raoni Santos / HUPAA