Aristóteles, filósofo grego, dizia que ricos e pobres eram fontes de eternos conflitos e nesse ambiente abria-se espaços para governos despóticos. Em razão disso defendia o fortalecimento da classe média e a associação dela com os governos, da qual resultaria a estabilidade social.
Das várias vozes influentes no mundo que defendem uma melhor distribuição das riquezas produzidas para que o sistema não sofra uma explosão, destaca-se a do economista francês Thomas Piketty, taxativo ao dizer que foi a moderação do capitalismo feita pelas políticas econômicas do tipo social democrata que permitiu a prosperidade, o aumento da expectativa e da melhoria dos padrões de vida. Piketty considera contraproducente o nível de desigualdade existente no mundo e afirma que “estamos numa situação não muito diferente daquela que nos levou à Revolução Francesa”.
Falando para o Brasil, destaca que a desigualdade do país hoje se equipara a da Europa no final do século 19 ou começo do século 20. Como apenas os países que reduziram as desigualdades no século passado tornaram-se ricos, considera um erro histórico das elites brasileiras a recusa de redistribuir a riqueza. Está claro para Piketty que de forma geral a renúncia de privilégios não se consegue com pedidos educados, portanto acredita que em algum momento haverá ruptura institucional.
Fato é que pelas regras atuais as aspirações de mudanças ficam limitadas, pois estão ausentes da pauta de discussões políticas dos governos “modificações dos padrões de partilhas de poder, de distribuição de riquezas e de reconhecimento social. Trata-se de uma questão de gestão de modelos que se reconhecem como defeituosos, mas que ao mesmo tempo se afirmam como os únicos possíveis”, defende Vladimir Safatle, filósofo e professor da USP.
A defesa do modelo único, sempre patrocinador da austeridade, na verdade foi a forma encontrada pelas elites para impedir a aplicação de modelos de gestão que impliquem na distribuição das riquezas. E isso tem imposto a maioria da população níveis cruéis e injustificáveis de pobreza.
Em Alagoas, a redução das transferências de renda associada aos altos índices de inflação e desemprego levaram mais 1% de alagoanos para a pobreza ou extrema pobreza, de janeiro de 2020 a janeiro de 2021. Hoje quase a metade da população do Estado se encontra nessa situação, conforme estudo do economista e professor da Ufal, Cícero Péricles.
Diante de tal cenário cabe perguntar quanto da sua renda sobra no final do mês nesta terra arrasada? Como o (de)crescimento da economia propagado pelo Ministro Paulo Guedes impactou a sua vida? Como as pautas comportamentais que discriminam as minorias levadas como bandeiras de luta pelo atual governo brasileiro elevou a sua condição econômica? Os seus desejos e aspirações de crescimento serão atendidos pela presença de ministros terrivelmente evangélicos no STF?
É necessário refletir também sobre que resultados a extrema pobreza que atualmente atinge 1.204.584 alagoanos produzem no seu dia a dia. Para o comercio e o setor de serviços local a conjuntura econômica presente resultou em três anos de dificuldades “com resultados distantes de seus anos de vendas crescente”, diz Péricles, mesmo depois do avanço da vacinação e do aumento de fluxo de pessoas nas ruas.
Estamos às vésperas da maior festa comemorada pelos cristãos – o nascimento de Cristo. O homem cujas lições ensinadas são de dividir o pão e atender as demandas dos mais necessitados. O homem que ao se deparar com o apedrejamento de uma mulher, tornou-se seu defensor. Nenhuma semelhança com os discursos atuais dos que se denominam cristãos e estão no poder do estado brasileiro, ou ao redor dele. Por isso enquanto refletimos e nos preparamos para a mudança de rumos, cantemos Chico César ♪ Deus me (nos) proteja da bondade da pessoa ruim♪