Nomes poéticos, surgidos na criatividade da convivência humana, assim eram os nomes das ruas da minha cidade, quando criança. Beco do Mofo, onde morava, rua estreita, por trás do comércio. Rua do cafundó, onde se descia uma ladeira, chegando à rua onde as mulheres praticavam a prostituição. Rua da Palha, onde ainda hoje há a igreja de São Sebastião. Varadouro, rua comprida, ladeira enorme, que levava ao campo do Cirô. Assim eram as ruas de Porto Calvo.
Castanhola, era um largo, lugar onde nasci. Próximo a ladeira do cafundó e a rua da palha. Hoje, afastado da cidade, conduzido pelo ventos do destino, não sei se esses nomes permanecem.
As ruas da minha cidade, histórica e velha cidade, fazem parte da memória da minha infância. Na Comandatuba, lugar onde brinquei de guerras, na alvoraçada infância da minha existência, por lá também andou Calabar, grande personagem histórico do Brasil.
Onde ficava a delegacia, não me lembro o nome da rua, sei que ficava próximo a rua dos Curís, os presos, recordo-me, pendurados nas grades, com os pés e braços atravessando os pequenos quadrados, não me saem da retina. Não imaginava, na visão da criança sempre feliz, os homens precisassem de grades inibindo sua liberdade.
A rua do comércio, onde, tempos após foram morar meus avós, guardo boas recordações, de uma infância sem problema.
O alto da igreja matriz, com suas escadarias, ali, à sombra daquelas paredes majestosas, de largura impressionantes, não só ouvia o badalar dois sinos, mas às tardes aproveitava para o descanso e brincadeiras. Já adulto, aprendiz,que naquele átrio da sé, Calabar fora preso pelas tropas holandesas, entrando para a história, tão pouca lida na minha cidade.
Naquelas ruas e ladeiras, cafundó, rua da palha, varadouro, Comandatuba, castanhola, ao lado de amigos ingênuos e felizes, todos da minha infância querida, José Ailton, o Curió, Toinho da Ester, Claudiney, Betinho do Bia, Elias Maximiliano, o Rato, Mário do Salú, Zé Gordo, Marinaldo, Mário do Simplício, Vilmário, são alguns que me lembro e que fizeram parte de minha infância e adolescência vivida de forma intensa e feliz. Alguns ainda vivem. Outros já morreram.
Na rua do comércio fica a prefeitura, prédio antigo e assobradado, onde pensei um dia, sonho compreensível da criança, dirigir os destinos da cidade. Alto da força, deveria ser da forca , onde tantas vezes, no inquieto alvorecer da vida, fiz as mais mirabolantes travessuras, na felicidade não mais encontrada.
Na rua do meu grupo escolar, as saudades são muitas, quando quebrando o silêncio da manhã, na correria da bulha, trepado em bons tamancos, anunciava minha chegada. Assim foi minha infância nas ruas da minha cidade.