Conhecida como “Terra dos Minérios”, Craíbas é rica por natureza, mas sofre com a pobreza de seu povo e vive o drama de um desastre ambiental anunciado, semelhante aquele que ocorreu em Mariana e Brumadinho, provocando destruição e mortes, em Minas Gerais.
O alerta já foi dado pela imprensa alagoana, em várias reportagens publicadas a respeito das atividades predatórias da Mineradora Vale Verde (MVV), no Agreste alagoano, mas as autoridades, por enquanto, continuam de braços cruzados.
“Com relação ao funcionamento da Vale Verde, eu já imaginei um dia vivenciando uma nova Brumadinho”, revelou o procurador de Justiça, Antônio Arecippo, ao comentar uma reportagem da Tribuna Independente, sobre a “exploração insana” da mineradora na região de Craíbas.
Para Arecippo, o drama de Mariana e Brumadinho pode se repetir na zona rural do município alagoano, onde estão em pleno funcionamento pelo menos duas barragens da Vale Verde para a exploração de minério de cobre na região.
Como membro do Ministério Público e decano da instituição, Arecippo disse que fará um pronunciamento na próxima sessão do Colégio de Procuradores de Justiça, denunciando essa situação e pedido providencias.
Esse compromisso ele assumiu de livre e espontânea vontade, em mensagem ao jornalista Roberto Baia, preocupado “com o futuro da população circunvizinhas e a defesa do Meio Ambiente”.
Questionado a respeito das atividades da mineradora em Craíbas, a assessoria do Ministério Público de Alagoas disse que até agora não chegou nenhuma denúncia formal ao órgão ministerial.
Como o Ministério Público só se manifesta se for provocado, a denúncia teria que chegar ao conhecimento do promotor de Justiça Lucas Mascarenhas, que é o titular da Promotoria de Meio Ambiente de Arapiraca, responsável pela apuração dos casos de agressões à natureza, na região.
A denúncia mais grave contra as atividades da MVV em Craíbas é com relação ao barulho das explosões, provocadas pela mineradora, para a extração do minério no subsolo. Essas explosões acontecem constantemente, segundo denunciam os moradores.
OUTRO LADO
A reportagem do Jornal de Arapiraca tentou ouvir a mineradora, por meio da sua assessoria de comunicação em Arapiraca, mas a Vale Verde até agora não respondeu às nossas perguntas.
Em seu site na internet, a empresa garante que suas atividades são seguras e que segue a legislação ambiental. No entanto, não tem quem não se espante com a imponência dos paredões das duas barragens, construídas com areia, barro, pedras e cascalhos retirados do solo do município.
“Estremece tudo e o barulho é grande”, diz pequeno produtor rural
Além do risco de acidentes, o impacto de vizinhança gerado pela mineração é gritante. Moradores dos povoados da redondeza reclamam das explosões, que fazem o chão tremer e causam rachaduras em suas casas.
“Estremece tudo e o barulho é grande”, afirma o pequeno produtor rural Antônio Amaro das Silva, de 53 anos, mostrando as rachaduras na casa dele. “Só não caiu porque eu tapei as rachaduras”, acrescentou o agricultor, que mora com a mulher e um filho, no povoado de Torrões, a poucos metros de uma das barragens.
Dona Edileide também se diz amedrontada com essa situação. “Toda quinta-feira, perto do meio-dia, a gente escuta a explosão”, relata ela, mostrando as rachaduras em sua casa. Sua vizinha, Vitória Maria dos Santos, de 20 anos, que mora com o marido e dois filhos menores, também se assusta com o barulho das explosões.
Nos povoados de Pau Ferro e Lagoa do Mel, os moradores também fizeram relatos parecidos: “Eu morro de medo desse barulho, que a gente não sabe da onde vem, mas deve ser da mineradora”, afirma Suely Alves, moradora da Lagoa do Mel. Ela também teve as paredes de casa rachadas, “possivelmente pelas explosões”.
REDENÇÃO VIRA DRAMA
A empresa chegou em Craíbas há 13 anos, como a redenção do Agreste, prometendo empregos e renda para os moradores da região. Mas, até agora, as promessas ficaram no papel. O município continua amargando um dos mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do País e boa parte da sua população, estimada em 25 mil habitantes, sobrendo coma miséria e o desemprego.
“No começo, alguns moradores ainda conseguiram emprego, mas foram sendo demitidos. Hoje a maioria é de fora e trabalha para as terceirizadas”, afirmou uma ex-funcionária da Vale Verde, que mora no povoado Pau Ferro e pediu para não ser identificada, temendo retaliações por parte da mineradora.
“A Mineração Vale Verde tem como principal objetivo desenvolver o Projeto Serrote, localizado no Agreste Alagoano, no município de Craíbas, junto à divisa do município de Arapiraca, um dos principais centros urbanos do estado”, diz a empresa.
Fonte: Ricardo Rodrigues, Roberto Baia e Carlo Bandeira