Beat. Batida. África. Palavras decrescendo até a origem. O som de Naty Barros é lama. É criação que abunda e se enche da fonte.
Segundo consta, Exu sustenta quem faz o sacrifício corretamente. Aqui, ela dá a si mesma, neste que é o sacrifício de ser-se farol para outras pessoas que vem depois.
Sua música é a sua maior oferta: seu primeiro álbum “Bata Cabeça” foi colocado nas prateleiras digitais nesta segunda-feira, 15 de Novembro, Dia da Proclamação da República.
O dia é simbólico, porque, desse modo, Naty Barros proclama um novo momento para o rap de Arapiraca. Inaugura um novo tempo de rimas agrestes, assinando na pedra sua cadência rupestre.
Esse trabalho pode ser conferido nas redes sociais da artista pelo Instagram (@natybarrosn), Youtube (youtube.com/natybarros), Spotify (https://tinyurl.com/spotifynatyb) e demais plataformas de streaming.
“O álbum já traz na capa um chamado e uma reverência ao segredo, ao mistério, ao espírito. Embora eu já tenha lançado alguns outros trabalhos nesses anos de carreira, esse momento que vivo agora é diferente. É meu primeiro álbum, minha chegada, minha ‘bença’, meu abraço. Faz parte da rotina, da vida: primeiro, você ‘bate cabeça’. E esse álbum nasce no ventre do Agreste. É uma busca por conectar memórias e sonhos contemporâneos com nossas tradições africanas de origem. Uma tentativa de entrelaçar o tempo, o nosso passado com um presente de potência e um futuro de possibilidade. O futuro é ontem”, diz a artista arapiraquense.
CANTO
Antes de tudo, Naty é poeta. Carrega uma mística imensa, um canto que associa o verso nordestino e a batida afrikana — ela achou seu canto, seu lugar.
“Quem entende quando eu canto, se esse canto é de outro canto?”, pergunta Naty em uma de suas 9 canções.
São elas: “Intro – Farol de Pele Preta”, Há Lagoas Nessas Terras”, “Criptografia (part. Furmiga Dub)”, “O Machado do Meu Pai”, “Rasga-Mortaia (part. Jéclysson)”, “N’Ginga Quem Falou (part. Mãe Eloiza D’Yemonja e Arivle Elvira)”, “Lama (part. Mary Alves)”, “Magia Black Side” e “Não Me Teste”.
Faixa a faixa, a cantora, compositora e beatmaker elabora um discurso livre sobre ser-se, estar no mundo e quebrar correntezas no peito, com a cor azulejada da noite iluminando a nossa pele, nossa superfície. Até que isso se aprofunde em nós para além da epiderme — a cada nova vivência, nova audição do “Bata Cabeça”.
“Algumas de minhas principais influências neste trabalho são o Black Alien, Baiana System, Tássia Reis, Sant, Cátia de França, RAPadura, Djavan, Jackson do Pandeiro, Olodum, Margareth Menezes, Alcione, Jorge Ben Jor e Lia de Itamaracá. São artistas que me derem algo nesse caminho: técnico, estético, espiritual. Me ajudaram a pensar nossa cultura, nosso povo, nossas ciências”, pontua a jovem de 24 anos, imersa no afrofuturismo.
O “Bata Cabeça” tem em sua produção executiva Naty, Camila Maria, Larissa Lima, Lella Sobreira e Mayk Andreele. Na produção musical entram Naty, Colombia Beats, FM, Furmiga Dub, Luana Flores e PH. Na produção fonográfica, o Pedão. Já a engenharia de som é de Sandro “Siri” Cardoso, que fez a captação de som do disco. A mixagem e masterização ficou por conta do QG dos Manos, em Maceió.
O projeto gráfico é da própria Naty e Keyla Gondim. Inclusive, cada faixa do álbum tem assinatura visual da ilustradora Keyla Gondim, diretamente de Salvador, idealizadora do Colagens Pretas. Em se tratando das fotos de divulgação, a responsável foi Mylena Duarte, fotógrafa também de Arapiraca.
Esse CD tem o apoio financeiro do Governo de Alagoas, através da Secretaria de Estado da Cultura, via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, do Governo Federal.
“Agradeço a todas e todos que colaboraram com a materialização deste trabalho. No candomblé, nós ‘batemos cabeça’ como um sinal de respeito e reverência. E por que fazer isso hoje? Porque o tempo é uma espiral. Tudo o que é, só o é, porque antes algo foi”, pontua a rapper do Agreste alagoano.
Naty brilha de segunda a segunda. Farol caleidoscópico para todo canto.