
A ausência de torcedores durante grande parte da temporada de 2020, em razão da pandemia de Covid-19, provocou uma queda de 53% no número de casos de ataques racistas no futebol brasileiro, em relação a 2019, de acordo com relatório divulgado pelo Observatório de Discriminação Racial do Futebol. Ao todo, foram 31 casos de racismo no Brasil.
O relatório completo com os casos do ano 2020 e série história será divulgado em um evento virtual, nesta sexta-feira, no Museu do Futebol, em São Paulo, que apoiou a publicação.
Veja o número de casos de racismo no futebol brasileiro e onde foram praticados, desde o início da série histórica:
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Locais da ocorrência dos casos de racismo no Brasil – série histórica — Foto: Divulgação
O Observatório, inclusive, já iniciou a contagem de casos ocorridos em 2021, e registrou 41 casos de racismo até o início de outubro deste ano. Ou seja, os números voltam a aumentar.
O levantamento também mostrou a ocorrência de doze casos de lgbtqia+fobia, onze de machismo e quatro de xenofobia no Brasil.
Para o criador do Observatório da Discriminação Racial, Marcelo Carvalho, o vazio nas arquibancadas não foi suficiente para dar fim à discriminação, que continuou a acontecer, seja em outros ambientes, como a internet, ou por atores que deveriam trabalhar para evitar as agressões, como jornalistas e dirigentes de clubes.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
– Deixa de ser uma muleta usar a desculpa de que o racismo é praticado por torcedores, e dizer que os clubes não têm como agir. Na verdade, o que a gente está reparando em 2020 e 2021 é que existem muitos casos de racismo que são praticados por quem deveria coibir. A pandemia evidenciou esse fato, de que o racismo está presente dentro da diretoria ou das comissões técnicas. Seja porque não tem negro, seja porque é uma estrutura extremamente racista que ganhou evidência por não ter torcida. Podemos dizer que muitas vezes esses gritos eram abafados – analisou.
Há alguns exemplos de casos semelhantes ao que Marcelo citou acima, como as ofensas proferidas por um comentarista de rádio contra o atacante Marinho, dos Santos, em julho de 2020. Ou os xingamentos sofridos por Celsinho, do Londrina, feitos pelo então presidente do conselho deliberativo do Brusque, que acompanhava a partida entre as duas equipes. Como a presença de torcedores ainda estava proibida, o dirigente assistia ao jogo entre os poucos convidados do clube. Após a repercussão do caso, o dirigente recebeu uma multa e foi suspenso do futebol por um ano.
Para o ex-jogador e comentarista do Grupo Globo Grafite, as punições precisam ser mais duras:
– O que acho mais estranho é o time, os jogadores em campo serem punidos com a perda de três pontos. Mas o dirigente que foi o causador de tudo, o agressor, ele está suspenso por um ano se não me engano, mas daqui um ano ele vai voltar. Isso se ele não continuar exercendo o seu papel em off – criticou.
O outro caso que gerou repercussão aconteceu na partida entre Flamengo e Bahia, pelo Brasileirão, em dezembro do ano passado, no Maracanã. Segundo o meio-campo Gerson, o colombiano Índio Ramirez, jogador do Bahia, falou para ele: “cala a boca, negro.” Na súmula da partida, o árbitro Flávio Rodrigues de Souza relatou que não viu o episódio. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva arquivou o inquérito. E o Bahia reintegrou Ramírez alegando inexistência de provas. Depois disso, o clube baiano incluiu a cláusula contratual que permite demissão, por justa causa, de quem cometer atos racistas.
Para Marcelo Carvalho, o quadro só vai mudar quando houver uma mobilização institucional e estrutural no país.
– 2020 foi o ano do Black Lives Matter no esporte. Essas vozes são ouvidas na NBA, NFL, na Alemanha, Inglaterra, e no Brasil não. No Brasil, a gente praticamente não teve o movimento de luta contra o racismo no esporte brasileiro, no futebol brasileiro. Porque as instituições que comandam o futebol não apoiaram as manifestações. Se a gente olhar para fora, a NBA, enquanto liga, apoiou as manifestações, no futebol inglês também. No Brasil, não teve apoio. O que a gente percebeu foram ações isoladas de alguns clubes e alguns jogadores.
Mais informações do levantamento serão divulgadas durante o evento de apresentação do Relatório, que será transmitido nas redes sociais do Observatório de Discriminação Racial no Futebol e do Museu do Futebol, a partir de 10h, desta sexta-feira.
Fonte: Globo Esporte
08/10/2021 09h01