Manifestação contra Braskem: “nosso ato é de luto e de luta”

↑ Proprietários de casas em bairros atingidos por afundamento reclamam de perdas nos valores dos imóveis que foram obrigados a deixar (Foto: Edilson Omena)

“Esse é um ato de luto e luta. Para registrar a morte dos bairros, trazer à tona as pessoas que morreram e vai ficar na conta do acaso (…) Ainda que fôssemos na porta da Braskem cantar parabéns e agradecer íamos ter reação, porque é essa maneira que máquina de moer gente age”. É assim que o pastor da Igreja Batista do Pinheiro, Wellington Santos descreve o cenário que antecede a manifestação contra a petroquímica, marcada para os dias 3 e 4 de dezembro.

Além do segmento evangélico, o ato deve reunir representantes da Igreja Católica e de religiões de matriz africana lideradas pelo Pastor Wellington, cônego Walfran Fonseca e Pai Célio.

“Estamos convidando lideranças que queiram se juntar, quanto mais lideranças, quanto mais plural, melhor”.

De acordo com o Pastor Wellington, a ação tem o objetivo de não deixar cair no esquecimento a situação de cerca de 60 mil famílias afetadas pelo problema de afundamento de solo que atinge cinco bairros da capital alagoana.

“O ato em primeiro momento é focado no luto: a Braskem matou nossos sonhos, nossos afetos… essa história de realocação, de lugar melhor, quem foi que disse que queríamos ter ido? E tem a luta de continuar pleiteando uma pauta. Não dá pra continuar a Braskem não respeitando ninguém, ou você aceita as condições dela ou ela vence você pelo cansaço”, afirma.

No início do mês, outro ato, organizado por associações de moradores dos bairros atingidos, foi suspenso após a Braskem conseguir uma liminar na Justiça e os organizadores impedidos de realizar novas manifestações na entrada das unidades da petroquímica. Na avaliação de Wellington Santos, é possível que algo similar ocorra no ato previsto para início de dezembro.

“Desde que a manifestação não seja para agradecer a Braskem eles vão agir. Como ela [empresa] vai agir a gente não sabe, vamos tentar nos preparar do ponto de vista jurídico. No último protesto, não houve nenhuma tentativa de ocupação, nós vamos evitar esse tipo de coisa, mas com muita sinceridade, na minha cabeça estamos nos preparando para o pior. O fato é que a Braskem não quer manifestação… E o que vamos fazer? Quer que façamos manifestação onde? Em Messias? Ou que vamos sentar e chorar?”, questiona.

Protesto possui caráter de resistência e mobilização

O pastor ressalta que a manifestação possui caráter de resistência e de mobilização dos atingidos.

“Eu não sou líder de associação, filiado a partido, estamos nos unindo, para dizer que eles podem moer, moer e moer, mas não vamos aceitar. Qual pode ser o ataque, de onde vem, como vai ser, não sabemos. Mas com certeza deve vir e se não vir vai ser surpresa, mas o que vamos fazer? Desistir de lutar? A minha tese é que houve um ato e a Braskem reagiu com força, e que tenha dez pessoas, três ou mil, mas que tenha porque precisamos minimamente gritar, denunciar, e quem sabe arrastar mídia, pessoas de bem, atrair mentes que queiram continuar lutando ”, diz.

Um dos movimentos envolvidos no último protesto, o SOS Pinheiro divulgou nota pública onde afirma que não irá participar do ato por temer novas sanções.

“Em resposta à consulta que fizemos com o nosso assessor jurídico, recebemos aconselhamento para que o SOS Pinherio se abstenha da prática de qualquer conduta que possa implicar em violação da liminar… Nesse contexto continuaremos apoiando o amigo músico e compositor Emmanuel Dias (Manudí) e a música Bairro do Pinheiro na 4ª edição do Festival em Cantos de Alagoas. Entretanto, agradecemos e declinamos ao convite do amigo Pastor Wellington para participar da Comissão de Planejamento do Ato Interreliogioso de Luto e Luta, ao tempo em que desejamos sucesso e pleno êxito no alcance dos objetivos traçados para esse Ato de Protesto”, disse o movimento.

Fonte: Tribuna Independente / Evellyn Pimentel