De Hermeto aos Notáveis: Alegria nas ruas e clubes nos anos 60 e 70

Foto: Capa da Edição 154 do Jornal de Arapiraca

Desde seu início que Arapiraca foi preparada para o trabalho. Seu povo também. Sem divertimento, sem alegria, o arapiraquense vivia, crescia, se desenvolvia com um só pensamento: trabalho. Somente no início dos anos 20, com a fundação de uma escola de música é que o filho de Arapiraca se interessou pela cultura, aliada ao divertimento. Daí para o surgimento de bandas musicais, de bandinhas carnavalescas, de conjuntos musicais, foi um salto. E de cinemas, como o Cinema Leão, o Cinemas Trianon, o Cinema Triunfo. E os clubes sociais, como o Clube dos Fumicultores e a Agremiação
Recreativa Arapiraquense, ARA. Vamos relembrar.

BANDA DE MÚSICA DO CLUBE DOS FUMICULTORES (1953)

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Maestro: Nelson Soares Palmeira
Membros: Luiz Coqueiro, João Lima, Leônio, Lourival Almeida, João Jequeri, Etelvino Lins e Edigenaldo Nobre (clarinetes); José Lúcio (José Gondim), Leo e Valdemar Correia (trompetes); Antônio Guariba e Nicodemos (trombones); Edivaldo e Neusvaldo Nobre (saxofones); Anibal  (bombardino); Hercílio Corado, Djalma e Eraldo (trompas); Gondim Rodrigues e Crisóstomo (tubas); Expedito (bombo); Antônio Abdon (surdo); Antônio Lima (pratos); Paulo Correia Amorim (tarol).

BANDINHA DO DEDÉ

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Dedé Vigário, pessoa simples, bem humorada, entusiástico de festa, teve sua passagem por Arapiraca festejando a vida, Nesta sua passagem, criou, junto com amigos, a Bandinha do Dedé, famosa nos desfiles carnavalescos de Arapiraca. Primeiro, a bandinha era para comemorar seu aniversário e, com amigos, como Marcolino Guedes, José Inocêncio, Bereguedé, Milton Militão, Lourenço Almeida, Antônio Luís, Daniel Vieira, Filadelfo Macedo, José Gondim, Luís Cornélio, Cícero Texaco, Pedro Carnaúba, Valdemarzinho, Ciro, saiam todos pelas ruas de Arapiraca, sem bagunça.

Foi, praticamente, a primeira interação entre arapiraquenses das duas principais facções políticas. Na Bandinha do Dedé não havia cabanos nem caras-pretas. Tudo era alegria.   

BLOCO DO ZUM ZUM (1973)

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De lembrança, os arroubos da juventude. Aqui se tem de ex-prefeito, João Nascimento (último em pé), à direita; deputada federal Thereza Nelma (a 8ª em pé), da direita para esquerda; bancário Cordeiro, do Produban, sentado, ao lado do Nô; professores como Ubirajara Almeida (último, barbudo, em pé); engenheiro civil, Severino Arestides (5º da direita para esquerda, em pé);  advogado Tadeu Ribeiro (vizinho a Thereza Nelma), a direita,  Luciano (da Casa São Paulo),  designer Nô Nojeira (primeiro, sentado, da direita para esquerda); Flamarion, por trás do Nô, sentado. Outros nomes: Socorro Tenório ou Socorro Totô (6ª da direita para esquerda, em pé); Djalma Santana, Dija (7º da direita para esquerda, em pé); Fernando Tenório ou Fernando Totô (primeiro, em pé, com copo na boca, da esquerda para direita).  Sentadas, primeira fila, da esquerda para direita: Bete, Janete e Fátima (filhas de Cícero Iziano). No carnaval, tudo era válido. Esquecia-se de tudo. Era o bloco do ZUM ZUM.

OS NOTÁVEIS

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O conjunto musical OS NOTÁVEIS, grande incentivador da música jovem dos anos 60/70, notabilizou-se pela façanha de ter sido o primeiro a gravar um disco (45 RPM com quatro faixas musicais) originário de Arapiraca.  Os irmãos Dules e Eraldo Magalhães mostraram a pujança dos arapiraquenses. A gravação foi feita pela gravadora Fábrica de Discos Rozenblit Ltda, do Recife. Os NOTÁVEIS existiram por mais de 15 anos, apresentando-se em clubes sociais, nos cinemas Trianon e Triunfo e em festas de formaturas da região.

FERNANDO MELO (1953)

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O instrumentista alagoano de Arapiraca, Fernando Melo, é considerado um dos melhores violonistas de nosso País. Desde cedo, aos 7 anos, iniciou-se nos estudos de música, formando, com seus irmãos The Lucios Boys. Em 1967, com 14 anos, mudou-se para Maceió, onde participou profissionalmente como músico em conjuntos de bailes. Em 1974, em São Paulo, com seu parceiro Luiz Bueno, trabalhou como músico acompanhando vários artistas. A partir de 1977 passou a fazer parte do Grupo de Rock Progressivo A Boissucanga (Fernando no baixo). Desfeito o grupo, formou o DUOFEL, um dos melhores duos do Brasil. Em 1994, foi indicado como melhor solista pelo “Prêmio Sharp de Música” o maior prêmio de música brasileira. Depois de 22 anos de Duofel, em 2000, Fernando Melo se dedica a sua terra e começa um trabalho que é uma trilogia sobre Alagoas, que vai ao encontro a sua memória musical. Apresentações: Central Park (New York), Montreaux (Jazz Festival), Festival de Guitarra de Lyon (França), Free Jazz Festival, Heinekken Concerts, Teatro Municipal de São Paulo, Sala São Paulo. Prêmios: 8 Prêmios conquistados dentre eles: Prêmio Sharp em 1994 e 1997, Prêmio Ary Barroso pela obra composta.

PAULO LOURENÇO DOS SANTOS (+2018)

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O político e ex-governador Divaldo Suruagy, em seu livro “Os Ventos Estão Inquietos”, descreve: “Paulo não tem maiores preocupações com dinheiro; o grande lucro é o convívio com jovens, o encontro com amigos, os diálogos que mantém na madrugada, sobre os mais variados assuntos. Ele não é um comerciante. É um verdadeiro anfitrião”. Zezito Guedes destaca o Bar do Paulo, como um recanto bucólico, onde os frequentadores sentem-se à vontade, com a cortesia e a grande popularidade do Paulo Lourenço. Situado na rua São Francisco, era local de encontro da juventude a partir dos anos 70. Hoje, é saudade. Paulo Lourenço, natural de Palmeira dos Índios, antes de tudo, foi um educador musical em Arapiraca.

HERMETO PASCOAL (1936)

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O historiador Zezito Guedes conta que, aos 11 anos de idade, o menino Hermeto já se apresentava na feira de Arapiraca, juntamente com o seu irmão. Nascido no ano de 1936, na localidade conhecida como “Olho D’água” no então povoado de “Lagoa da Canoa” (hoje município), desde pequeno aprendeu a tocar flauta e sanfona e arrumava uns “trocados” exibindo seus dotes artísticos pelas ruas de sua cidade natal. Em 1950, a família de Hermeto Pascoal se mudou para Recife/PE, onde continuou se apresentando com um irmão nas rádios. No final da década, foi para o Rio de Janeiro/RJ, onde tocou em conjuntos regionais e na Rádio Mauá. Mais tarde, transferiu-se para São Paulo/SP, onde formou o grupo “Som Quatro,” que o projetou para o mundo.

É considerado um dos maiores percussionistas da atualidade, por conta de sua capacidade de extrair música de quaisquer objetos, desde copos, chaleiras e brinquedos de plástico e até da fala das pessoas.  Um gênio.

ALFREDO VIEIRA DE ARAÚJO – ALFREDINHO (1948/2004)

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Nascido em Santa Cruz do Capibaribe, chegou em Arapiraca ainda menino. Por conta própria, aprendeu a dedilhar as cordas de uma guitarra. Logo,l ogo enveredou pela música; primeiramente, a jovem guarda; depois, foi um eclético músico. Ah, mas Alfredinho foi um mestre na música nostálgica, na dor de cotovelo, na música brega.  Fez parte de Os Notáveis.

JOÃO BIBI DOS SANTOS (1932/2009)

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João do Pife, nascido em Porto Real do Colégio, aprendeu a tocar pífano ainda criança, quando ajudava os pais nas lavouras de fumo, em Arapiraca. Dono de uma musicalidade ímpar e autodidata, o menino logo começou a ganhar fama e a ser reconhecido pelo seu talento.

No final da década de 1960 até o fim da década de 1980, João do Pife viveu a fase áurea de sua carreira artística, realizando shows em todo o Brasil, acompanhando o humorista “Coronel Ludugero” e tocando com artistas de renome nacional, a exemplo de Luiz Gonzaga e Dominguinhos.

Durante anos gravou inúmeros discos de vinil e foi considerado por Hermeto Pascoal um gênio da arte de tocar o pífano. Morreu aos 78 anos de idade, e teve reconhecido o seu talento pela Prefeitura de Arapiraca: à época, recebeu das mãos do prefeito Luciano Barbosa o “Troféu Arraiá da Integração”, em reconhecimento a preservação da música de raiz e a cultura popular.

CINE TRIANON (1952/1997)

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Foi o segundo cinema da cidade de Arapiraca, surgido após o cinema Leão, do agricultor Manoel Leão. Foi parte da visão empresarial do jovem (à época), José Ferreira Barbosa e foi, durante muito tempo, dirigido pelos jovens Claudir Aranda Valeriano (genro do proprietário) e José Moacir Teófilo. Também foi palco de vários tipos de manifestação de arte e cultura, mas, principalmente, era o entretenimento maior dos arapiraquenses, com ampla sala e espetacular tela, para a época. Representou local de apresentação de teatro – vide As Mãos de Eurídice, apresentada por Pedro Onofre; as apresentações de inúmeros artistas, como Luís Gonzaga, Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Jerry Adriane, Cauby Peixoto, Roberto Carlos, Hermeto Pascoal, Ângela Maria, Waldick Soriano etc. Foi, também, palco de programas de calouros apresentados por J. Sá, nas tardes de sábado.  Era cultura; era arte. Era cinema (o primeiro filme apresentado foi O Feiticeiro do Céu, seguido de Fabíola e Matei Jesse James).

Fonte: Eli Mário Magalhães e Manoel Lira

Produção Editorial: Roberto Baía e Carlo Bandeira