Deputado federal Daniel Barbosa condena ataques ao jogador Vini Jr em artigo contra o racismo e a xenofobia

Uma semana após os ataques racistas ao jogador brasileiro Vini Júnior, durante partida da liga espanhola, serem destaques na imprensa mundial, o deputado federal alagoano Daniel Barbosa (PP), publicou um novo artigo citando o caso e repudiando o racismo e a xenofobia.

No texto, disponível abaixo, o parlamentar enaltece grandes líderes mundiais que lutaram pela igualdade racial, como Martin Luther King e Nelson Mandela, e também representantes da cultura nordestina, a exemplo de Jorge de Lima e Nise da Silveira.

Confira o artigo na íntegra:

RACISMO: PRIMADO DA IGNORÂNCIA


Há sessenta anos, o grande defensor dos direitos humanos que foi Martin Luther King pronunciou, em Washington, o célebre discurso contra a segregação racial. Ele sonhava com o dia em que as pessoas não seriam julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter. Menos de um ano depois, o pregador da paz e da coexistência harmoniosa entre negros e brancos foi assassinado.

Nelson Mandela, um dos maiores líderes políticos do século passado, enfrentou e ajudou a demolir o apartheid na África do Sul, um violento sistema racista implantado e executado como política governamental durante quarenta anos. Primeiro presidente eleito de forma democrática em seu país e vencedor do Prêmio Nobel da Paz, ele sabiamente advertia que “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar”.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela ONU em 1948, repudia a discriminação por cor, gênero, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição. Afirma, também, que a instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos em prol da manutenção da paz.

Tem-se, ainda, ratificada pelo Brasil em 1968, a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, na qual os Estados Partes proclamam que a existência de barreiras raciais repugna os ideais de qualquer sociedade humana. Entre outras medidas, os signatários desse Tratado de Direitos Humanos se comprometem a combater, principalmente no campo do ensino, da educação, da cultura e da informação, os preconceitos que levem à discriminação racial.

No entanto, em pleno Século XXI, o que temos diante dos nossos olhos é estarrecedor. No embalo do discurso do ódio, o preconceito, a xenofobia e o racismo voltaram a contaminar a sociedade dita civilizada.

Triste demonstração desse retrocesso civilizatório aconteceu no dia 21 de maio, numa partida de futebol da liga espanhola, quando torcedores racistas xenofóbicos insultaram um dos melhores jogadores de futebol do mundo, xingando-o de macaco entre outros impropérios. Esse comportamento criminoso é recorrente em relação ao jovem negro Vini Júnior que, apesar da cumplicidade do árbitro da disputa e da complacência da poderosa entidade esportiva, enfrentou, com firmeza e com a força da consciência, a furiosa agressão coletiva.

A violência racial contra o brasileiro se estendeu ao campo e teve a prestimosa ajuda do árbitro do VAR. Vini Jr levou um mata-leão de um atleta do Valência. Daí, com base em imagens editadas da agressão, foi expulso e o agressor (branco) permaneceu no jogo.

Inseparável do craque que emociona o mundo com sua arte e sua alegria está o cidadão brasileiro Vinícius José Paixão de Oliveira Júnior, de origem humilde e bem-sucedido na sua profissão. A exemplo de milhões de negros pelo planeta afora, ele vem sendo alvo de ataques racistas e xenofóbicos.

O problema, gravíssimo, ultrapassa as paredes do estádio e as fronteiras da Europa, mas vem sendo tratado com desdém pelas autoridades espanholas. Muita gente importante apoiou Vini Júnior. Nesse contexto, destaco a dura entrevista do técnico Carlo Ancelotti imediatamente após o jogo e a firme manifestação do professor e ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Sílvio Almeida, que cobrou medidas enérgicas para o caso e acusou a conivência da liga espanhola e da FIFA com o racismo.

A barbárie comparece ao Século XXI para assombrar o mundo com o ódio e o desprezo pelos valores humanos mais significativos. O enfrentamento a essa situação deve ser implacável, permanente e sem condescendência alguma. Os negros, principalmente os pobres, sofrem humilhações diárias também no Brasil, onde foram submetidos a 300 anos de escravidão. São eles os mais vulneráveis à violência urbana e policial e ao encarceramento em massa.

Assim, é indispensável implementar políticas públicas de combate ao racismo estrutural, à pobreza e à fome. Nesse campo, sobressaem as ações afirmativas (que promovem a inclusão socioeconômica de grupos discriminados); as ações valorizativas (que se opõem aos estereótipos negativos, racistas e preconceituosos); as ações de promoção de igualdade racial (políticas universais e específicas de inclusão social) e as ações repressivas (proibição legal do racismo e punição da sua prática).

Outra doença social inadmissível que tem avançado é o preconceito contra os nordestinos, expressado nas mais variadas formas por setores da sociedade brasileira. É comum encontrar referências ao nordestino como sub-raça, preguiçoso, pobre, burro e sem cultura.

Preconceito, racismo e ignorância costumam andar juntos. Quem ataca o povo do Nordeste brasileiro desconhece as suas valiosas contribuições ao Brasil, inclusive no âmbito cultural. Grandes expressões da inteligência brasileira são nordestinas, como os alagoanos Jorge de Lima, Pontes de Miranda, Aurélio Buarque de Holanda e Nise da Silveira; os baianos Milton Campos, Castro Alves, Rui Barbosa e João Ubaldo Ribeiro; os sergipanos Tobias Barreto, Joel Silveira e Izabel Nascimento; os cearenses Patativa de Assaré e Rachel de Queiroz; os pernambucanos Luiz Gonzaga, Nelson Rodrigues e Paulo Freire; os piauienses Carlos Castelo Branco, Assis Brasil, Torquato Neto e Esperança Garcia; os potiguares Câmara Cascudo e Nísia Floresta; os maranhenses Odylo Costa Filho e Ferreira Gullar e os paraibanos Augusto dos Anjos, Epitácio Pessoa e Ariano Suassuna, para ficar apenas nesses nomes.

No dia 24 de maio, em Santa Catarina, a delegação do Sport Club do Recife foi alvo de xenofobia por parte de alguns torcedores exaltados, no jogo contra o Criciúma Esporte Clube. Os pernambucanos foram xingados de lixo e ouviram frases como “o Brasil é o Sul”, “voltem para casa”. O caso, documentado em vídeo, foi levado à Confederação Brasileira de Futebol e à polícia, para apurar a prática do crime previsto na Lei nº 9.459/97.

A criminosa discriminação contra os nordestinos é fruto da mais absoluta ignorância. Por isso, o antídoto é a informação, o diálogo e o respeito às diferenças. A força transformadora da educação, em resumo.

Sou brasileiro das Alagoas. Creio na paz, na harmonia e na tolerância. Não poderia, portanto, deixar de manifestar minha indignação com os ataques racistas contra o brasileiro Vinícius Júnior e todas as formas de preconceito e discriminação. Nessas breves linhas, expresso semanalmente meu pensamento acerca de temas sensíveis à sociedade brasileira. Tenho compromisso com a democracia, a educação e a justiça social, as únicas saídas para um mundo melhor.

Por Assessoria