
Após uma semana das fortes chuvas que atingiram Alagoas, famílias atingidas pelo temporal ainda estão sofrendo com os impactos e sem previsão de quando retomarão suas vidas após perderem quase tudo. Em Arapiraca, 104 vítimas das chuvas ainda estão nas escolas municipais que estão atuando como abrigos temporários. Para garantir que estas famílias não retornem a locais de risco, 47 famílias entraram no cadastro da prefeitura para serem inseridas no auxílio de Aluguel Social do município.
Arapiraca
Foi questão de minutos para que a água da chuva da madrugada do último dia 25 invadisse casas e alagasse ruas da capital do Agreste, deixando famílias em situação de risco nos bairros Brasiliana e Olho d’Água dos Cazuzinhas, locais mais afetados pelo temporal.
A família de Maria Rosimeire precisou da ajuda dos vizinhos para conseguir sair de casa, uma vez que a porta da casa ficou emperrada devido a força da água. Ela e mais oito pessoas que residiam naquela casa há menos de um mês conseguiram resgatar a televisão da família, mas que no transporte foi quebrada. “A gente estava dormindo, quando foi umas 2 horas da manhã começou entrar água dentro de casa. Os vizinhos ajudaram a gente abrir a porta e quando a porta abriu, a água entrou muito rápido, não deu para salvar nada. A gente veio para cá e aqui as meninas [da Secretaria de Desenvolvimento Social] fazem o que podem para ajudar a gente, até a gente sair para um lugar mais seguro”, relatou.
A família de Rosimeire divide o espaço da Escola Municipal Monsenhor José Soares com mais duas famílias, totalizando 18 pessoas. Nos primeiros dias de chuva, 22 famílias precisaram ser acolhidas no abrigo improvisado. Segundo a assistente social Cledimércia Pereira, que integra a equipe da Secretaria de Desenvolvimento Social e está acompanhando o dia-a-dia dessas famílias, parte dos desabrigados procuraram familiares para ficar até a liberação do aluguel social e alguns que as casas não tiveram tantos danos, conseguiram dar um jeito de retornar à residência.
“Foi feito um relatório para o programa de aluguel social das famílias para que eles sejam direcionados para um local seguro. Essas famílias que ainda estão aqui não tem como retornar de forma alguma para suas casas”, explicou a assistente social.
Apesar dos transtornos e das perdas, as famílias têm contado com a solidariedade dos arapiraquenses que organizaram pontos de coleta de doações para amenizar a situação.
“A gente agradece muito o empenho da sociedade, que através do trabalho articulado entre poder público e sociedade civil, chegou muito rápido a doação em alimentação, roupas, colchões e cobertores. Isso faz com que a gente percebe que a sociedade de Arapiraca é muito engajada, quando a gente faz o chamamento, ela comparece em peso”, destacou a Secretária de Desenvolvimento Social, Fabrícia Galindo.
De acordo com a secretária, o município tem trabalhado de maneira articulada para lidar com os efeitos da chuva, até então Arapiraca ainda não tinha registrado chuvas como essa. O desafio agora é auxiliar essas famílias retornarem, no possível, as suas rotinas, através do aluguel social.
“Assim que saiu o Decreto de Situação de Emergência do município, já foi solicitado o crédito para que Arapiraca possa garantir o aluguel social para aquelas famílias. Até então, nosso orçamento atende 30 famílias, agora atingimos um volume que nunca tínhamos atendido, essas famílias que estão desabrigadas e desalojadas foram cadastradas por nossa equipe e terão que ser incluídas. A gente aproveita e faz um apelo, porque não temos tantas casas para alugar e a gente pede para que quem tem um imóvel para alugar, mantenha o preço normal para o aluguel, porque a gente sabe que tem gente também que quando vê uma situação dessa, quer colocar o preço do imóvel mais alto. A nossa parte a gente vai fazer, mas também pedimos o apoio da sociedade para conseguir acolher todas essas famílias”, frisou a secretária.
Na última sexta-feira (27), o Ministério Público do Estado de Alagoas expediu uma recomendação, para que a Prefeitura de Arapiraca providencie, em caráter de urgência, o aluguel social para estas famílias atingidas. De acordo com a secretária, a prefeitura já está se articulando para encaminhar um projeto para que a Câmara de Vereadores do município aprove o crédito extra para essa emergência. “A recomendação do MP é importante, mas independente dela, é dever da sociedade e do Estado garantir o zelo dessas famílias. Mas essa é uma situação atípica, foi um valor muito maior do que a gente já tinha previsto. A gente já está se mobilizando para garantir este aluguel social, pois o município também tem essa consciência de que é necessário esse tipo de ação”, reforça a também assistente social.
De acordo com o coordenador da Defesa Civil, Lindomar Ferreira, essas áreas que representam risco de vida para a população serão proibidas de serem reocupadas. “O nosso papel e a nossa principal responsabilidade é garantir a segurança e a vida das pessoas, então em alguma dessas localidades a Defesa Civil não permite a volta da população”, explicou.
Ainda segundo ele, desde o início do ano, o trabalho conjunto da Defesa Civil e Secretarias Municipais tem monitorado outras áreas da cidade que podem ser atingidas em casos de mais chuvas, como a comunidade de Mangabeiras, em que 38 famílias residem em condições precárias e no Frei Damião, que já está em alerta para direcionar possíveis atingidos para a Escola Municipal Frei Damião.
O prefeito de Arapiraca, Luciano Barbosa assinou na última quarta-feira (25) o Decreto 2.779/22, que coloca o município em situação de emergência por conta das chuvas. Além disso, novas galerias foram abertas para o escoamento da água. Na segunda-feira (30), o prefeito decidiu por suspender os festejos juninos, “É um momento em que todos os arapiraquenses devem estar unidos para ajudar as pessoas que estão desalojadas de suas residências”, afirmou Luciano Barbosa, na ocasião.
PENEDO
A cidade do Baixo São Francisco foi a mais afetada pelas chuvas em Alagoas. Segundo os dados da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Habitação (SEMDSH), 250 pessoas estão desabrigadas e 1.040 ainda estão desalojadas. O município toma como referência as orientações da Defesa Civil Nacional para a construção dos dados de atingidos pelo temporal.
A prefeitura de Penedo distribuiu em cinco escolas municipais as famílias que estão desabrigadas, além de já ter iniciado a distribuição do aluguel social. Algumas famílias já retornaram para as residências que não apresentavam riscos e cerca de 100 famílias já estão em casas do aluguel social, segundo informações da Assessoria de Comunicação do município.
Na segunda-feira (30) o município registrou mais chuvas o que preocupou a população que permanece em alerta.
18 MIL ATINGIDOS
As chuvas atingiram ao todo mais de 18 mil pessoas, segundo o último boletim divulgado pela Coordenação da Defesa Civil de Alagoas, três pessoas foram vítimas fatais do desastre. Entre as cidades mais afetadas estão São Miguel, com mais de três mil desalojados; Feliz Deserto com 128 desabrigados; Rio Largo com mais de 500 desabrigados e 3004 desalojados.
Para auxiliar os alagoanos afetados pelas chuvas, o Governo de Alagoas anunciou na última terça-feira (31), um pacote de medidas que auxiliarão os 33 municípios que decretaram estado de emergência por causa do temporal. Paulo Dantas anunciou um auxílio de R$ 2 mil a cada família atingida, que será pago em quatro parcelas de R$ 500,00, nos meses de junho, julho, agosto e setembro.
FESTAS SUSPENSAS
Outra consequência do temporal da última semana foi a suspensão dos festejos juninos em Alagoas. Devido a tragédia que afetou mais de 18 mil alagoanos, os municípios de Arapiraca, Rio Largo, São Miguel dos Campos, Barra de Santo Antônio, Marechal Deodoro, Jequiá da Praia, Roteiro, Feliz Deserto, Santa Luzia do Norte e Satuba.
O Ministério Público Estadual tem atuado junto aos municípios recomendando a suspensão dos shows e que a verba seja destinada para o socorro às vítimas das chuvas.
O Governo do Estado suspendeu parte da programação do São João de Alagoas na capital alagoana. Assim, ficam suspensas as programações previstas na capital dos dias 1° a 4 de junho.
Fonte: Jornal de Arapiraca/ Lysanne Ferro