‘A Providência nos conduz, agimos conforme a vontade do Onipotente’. Se lhes perguntasse, num contexto de disputa política, quem teria dito estas palavras, é quase certo que a maioria diria ser do atual presidente do Brasil. E isso não é por acaso. Há muita semelhança nos sentidos e significados da frase destacada acima, proferida por Hitler, membro do exército alemão que fundou o Partido Nazista, elegeu o povo judeu como inimigo e matou 6 milhões deles e, a ‘Deus acima de todos’, um dos slogans de Bolsonaro.
Para entender esta similitude é preciso realizar um percurso histórico e conhecer os movimentos políticos que se utilizaram do discurso religioso para disseminar o ódio, o preconceito e a morte do oponente, assim como a influência deles na política nacional. Para encurtar o caminho dessa longa jornada, dado o reduzido mas importante espaço no jornal, proponho iniciar pelo Ação Integralista Brasileira – AIB, movimento político ultranacionalista criado por Plinio Salgado, em 1932, inspirado no fascismo europeu, defensor de um Estado coercitivo e autoritário, baseado em preceitos tradicionais e religiosos, cujo lema era Deus, pátria e família.
Sim. Deus, pátria e família é um slogan da tradição fascista e o bolsonarismo postula ser o principal herdeiro desta tradição. Não apenas do movimento de Plinio Salgado, conforme disse o historiador Leandro Gonçalves, “Bolsonaro tem várias características partilhadas com o caldo cultural e político da extrema direita brasileira, cujo integralismo é uma das principais caracterizações, sobretudo de matriz fascista”. O militarismo; a defesa das armas; o cristianismo customizado; o discurso ‘se não está comigo é contra a pátria’; a usurpação dos símbolos nacionais; a apropriação da religião, tornando-se representante dela como faz a primeira dama; a defesa do modelo de família tradicional, ainda que a do presidente não se encaixe nele; são alguns dos genes dessa triste herança.
Entretanto, a maior ameaça está no desejo de ver eliminados todos aqueles que eles elegem como inimigos, entre eles o regime democrático sob o qual as suas condições de desenvolvimento são limitadas. “Vamos fuzilar a petralhada”; “é preciso fazer o trabalho que o regime militar não fez, matando uns 30 mil, começando com o FHC”; “eu sou favorável à tortura”; “eu fecharia o Congresso, se pudesse”; são algumas das manifestações de Bolsonaro. Assim, nas vésperas do segundo turno das eleições presidenciais, a voz de Arnaldo Antunes nos desperta e nos cobra a atenção devida para esses “dias brutos de coturnos chucros a chutar a cara de quem ama… o que importa é… se todos vão prosseguir seguindo docemente para o abismo… em que o Brasil nega… qualquer futuro possível”.
Parte expressiva da elite empresarial brasileira, por certo que seguirá nesta direção. Não se importa hoje, como não se importou no passado, com a implantação da ditadura, chegando a financiá-la, desde que seus interesses continuem sendo atendidos. Para ela sempre haverá um futuro possível. Parcela da classe média também. Sem um projeto para chamar de seu, adere a projetos alheios. Nada ganhará, mas sente-se melhor na proximidade dos donos dos meios de produção mesmo que algumas vezes se perceba explorada por eles.
Quanto a mim, caros leitores e queridas leitoras, prefiro ficar junto aos que amam a arte e a liberdade de criação; aos educadores que despertam consciências e abrem os novos caminhos da ciência; aos economistas que entendem a necessidade de investir no povo brasileiro e no fortalecimento das políticas públicas de transferência de renda; aos jovens que confiam no amanhã; aos que defendem projetos políticos diferentes, mas no contexto de ameaça à democracia, unem-se em sua defesa; e, sobretudo, gosto de estar com o Zé e a Maria do Povo, a quem o país negou quase tudo, menos a sua consciência de classe, tão odiada pelos ditadores. E vocês?