Elionaldo Magalhães reúne em Arapiraca amigos dos anos 60

Por Roberto Baía e Eli Mário Magalhães

Um reencontro marcante de amigos que estudaram no Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho, em Arapiraca, nos anos 60, aconteceu no último dia 21 de dezembro. A reunião foi organizada pelo ex-deputado estadual e ex-superintendente da Sudene, Elionaldo Magalhães, que aproveitou o momento propício em que Arapiraca comemora 100 anos de emancipação.

Em entrevista, Elionaldo, que atualmente divide seu tempo entre Alagoas e Portugal, onde administra suas empresas, destacou a importância do reencontro do grupo de amigos, que seguiram uma agenda de visitas a locais, a exemplo da Praça Marques da Silva e da Igreja de São Sebastião, onde eram realizadas todas as noites, em seus degraus, as reuniões do tradicional Senadinho. Sobre o Senadinho, Eli Mário enfatiza que as conversas, algumas apimentadas, ficaram guardadas até hoje sob as bênçãos do santo.

Algumas personalidades que contribuíram com o desenvolvimento da cidade também receberam a visita dos amigos, dentre elas o fundador do Colégio Bom Conselho (CBC), educador Moacir Teófilo, sua esposa Luiza Ventura e seu filho Ricardo Teófilo.

Além de Elionaldo, estiveram presentes o seu irmão, o jornalista Eli Mário Magalhães; o médico Luís Carlos Tavares; o médico Welington Palmeira; o empresário Ronaldo Melo; o servidor aposentado Pedro Alves Leite; o jornalista e historiador Manoel Lira; e o professor Eraldo Barros (o Pirrita). Também participaram da visita ao educador, a convite dos irmãos Magalhães, o jornalista Roberto Baía e o professor aposentado José Acioly.

Elionaldo Magalhães
Roberto Baía – Elionaldo, o que representa para você a reunião com esse grupo de amigos dos anos 60?

Elionaldo Magalhães – Olhe, quando eu fiz um concurso e saí daqui, comecei a trabalhar, fui nomeado para outra região. E daí, depois de ser requisitado também pelo Ministério da Fazenda, eu trabalhei praticamente em quase todos os estados do Brasil. Em pelo menos oito deles eu cheguei a residir. Depois, os filhos crescendo, não podia estar mudando de escola, eu comecei a deixar a família aqui em Alagoas e ia exercer a missão que me confiavam. Ora, aí eu fiz muitas amizades, mas as amizades que eu fui fazendo eram amizades assim, passageiras, onde eu trabalhava dois anos, três anos, quatro anos, cinco anos. Rio de Janeiro, cinco anos; São Paulo, quase sete; e Pernambuco. Mas a lembrança mesmo que eu guardei, foi a daqui. Da Admissão ao Ginásio, do Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho, onde eu completei o ginasial, comecei o científico e o curso de contabilidade. Então, aqui é que eu me formei. Essa amizade é a que a gente mantém para o resto da vida. Essa turma que está aqui, nos conhecemos exatamente quando a gente fez a admissão ao Ginásio no Instituto São Luís, em 1960.Terminamos o primário em 1960. Em 1961 fizemos o Admissão ao Ginásio e começamos a estudar o primeiro ano de então Ginásio Nossa Senhora do Bom Conselho. Terminamos em 1965 o Ginásio. Então, por mais que eu tenha trabalhado fora, e não só no Brasil, como agora nesse momento. Eu tenho um filho com negócios nos Estados Unidos. Ele está há lá há doze anos. Tenho outro em Portugal, onde a gente também faz construção civil. Ele já está lá há cinco, eu tô há oito. E tenho uma filha aqui em Arapiraca, a Raíssa, que é casada.

Então, por mais que eu tenha rodado esse mundo todo, onde eu tenho as minhas maiores lembranças, os maiores momentos que eu recordo da minha vida, todos esses momentos estão relacionados com Arapiraca.
Os meus amigos mesmo, que eu posso falar coisa de 50 anos atrás, de 60 anos atrás, não é no mundo, é aqui. Por isso que nós estamos aqui reunidos. Dos 100 anos de Arapiraca que estão sendo comemorados, nós temos no mínimo 64 anos de convivência. É importante lembrar que quando cheguei a Arapiraca tinha 12 anos.

Roberto Baía – O senhor é natural de Pernambuco?
Elionaldo Magalhães – Sim. Nasci em Lajedo. Quero destacar que conseguimos juntar hoje os amigos de longas datas. Têm uns morando em Maceió, outros morando em Piranhas, outros em São Paulo, como o Luís Carlos e outros aqui. É difícil descrever o que é um momento como esse.
Infelizmente, outros colegas a gente não conseguiu encontrar. Já faleceram. Outros podem estar morando em outro local, onde nunca mantiveram contato.
Como todos nós temos família aqui, como eu que tenho filha, tenho netos e netas, irmãos e irmãs aqui, a gente mantém esse contato. Mas fizemos tudo e finalmente nos encontramos, vamos tirar foto, como estamos tirando. E hoje, para coroar o dia, preciso falar do nosso maior evento, que é visitar, hoje à tarde, o Dr. José Moacir Teófilo. Que nenhum de nós teríamos ido à frente sem este homem na nossa vida, nosso mestre, nosso amigo, nosso professor. É o homem que preparou e fez o futuro de gerações e gerações. Não só a nossa, como a anterior à nossa, e como outras depois da nossa.

Roberto Baía – Próximo ano, nova reunião, novo reencontro?

Elionaldo Magalhães – Será difícil. É mais fácil eu voltar do que alguns voltarem, mas com certeza vamos tentar um novo reencontro.

Outras entrevistas na íntegra:

Luiz Carlos Cavalcante Tavares
Roberto Baía – O que representa para você, amigo, esse reencontro hoje, essa reunião, justamente nesse período em que a gente comemora 100 anos de Arapiraca?

Luiz Carlos: Eu fiquei impressionado com essa ideia do Elionaldo, porque é quase impossível no mundo de hoje a gente ter uma cabeça dessa de procurar unir as pessoas. Eu fiquei surpreso e muito feliz.
Roberto Baía – Depois de tantos anos, o senhor volta aqui. O senhor vem sempre à Arapiraca ou está morando em São Paulo?

Luiz Carlos – Não, em São Paulo. Por que lá a gente tem duas clínicas. Minha vida é muito maluca lá dentro. Mas eu tenho minha filha que me ajuda, meu genro.

Roberto Baía – O senhor chegou a estudar no Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho?

Luiz Carlos – Estudei lá, estudei no Instituto São Luiz. Depois, fui para Maceió.

Roberto Baía – Professor Moacir Teófilo, o que ele é para o senhor, por exemplo?

Luiz Carlos – Um grande homem. Tamanho maior. Ele é um cara muito importante para o mundo. Ele é um cara muito especial. É um homem nobre. Aquele cara é muito especial.

Roberto Baía: O senhor é médico?

Luís Carlos – Sou oftalmol e médico do trabalho. Tenho a clínica dos dois, lá em São Paulo. Nesse trabalho e oftalmologia.

Roberto Baía – Iniciou sua vida aqui em Arapiraca?

Luiz Carlos – Em Arapiraca. Fiz até o Ginásio, depois científico. O científico fui fazer no Colégio Marista, de Maceió. Depois fui para o Rio de Janeiro, depois São Paulo.

Roberto Baía – Voltar à Arapiraca, assim, qual o sentimento que o senhor tem?

Luiz Carlos – É um recorde no tempo, né? Viver uma época melhor da vida, que é quando você é criança. Eu acho uma realização assim, uma coisa que não se apaga dentro da gente.

Wellington Lemos Palmeira

Roberto Baía – Wellington, o que representa esse encontro hoje com os amigos?

Wellington Palmeira – Rapaz, isso é muito magnífico, porque tem muitos anos que ninguém se encontra. E a gente juntar assim a turma aqui. Não é nem de adolescência, é até menos de adolescente.

Roberto Baía – Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho, o que representa para o senhor?

Wellington Palmeira – Fui aluno do Bom Conselho, fui aluno do Instituto São Luiz. Já saí do Bom Conselho quando fui para a faculdade em Maceió, com o Colégio Moreira e Silva. E quem me arranjou a vaga para eu estudar no Colégio Moreira e Silva foi o pai do Ronaldo, que era deputado na época, e me conseguiu uma vaga no Moreira e Silva.

Roberto Baía – O pai do Ronaldo Melo, ex-deputado estadual José Lúcio, inclusive, ele era muito amigo do seu pai, o Maestro.

Wellington Palmeira – Muito, muito amigo. E o pai dele foi quem trouxe o papai, né, porque na época eu morava em Maceió, para ir para Arapiraca.

Roberto Baía – Estamos falando do maestro Nelson Soares Palmeira?

Wellington Palmeira – Sim. Inclusive, o Nelson Soares Palmeira, tem que falar nesse pedaço, porque acontece o seguinte: o papai ensinava música, gostava de ensinar e um certo dia ele estava fazendo um ensaio e tinham duas crianças na janela olhando para as coisas como o papai falava, como o papai fazia, as coisas todas. Eram dois galeguinhos. Aí o papai notou a presença deles, aí foi lá na janela e disse: “o que é que vocês estão fazendo aqui?”
Responderam: “A gente tá ouvindo o senhor tocar”. E o que é que vocês querem mais do que isso? Responderam: “Eu queria aprender”. Aí, o papai chamou, mandou eles entrarem na banda, onde a banda estava ensaiando, e começou a ensinar música. As crianças eram o poliinstrumentista Hermeto Pascoal e o irmão dele.

Ronaldo Melo

Roberto Baía – Qual a sua visão, assim, de poder ter um reencontro como esses amigos depois de tantos anos?

Ronaldo Melo – Inenarrável, né? Porque a gente está se reencontrando, algumas pessoas com 40, 45, até 50 anos que nós não nos víamos.
O Elionaldo Magalhães teve essa brilhante ideia de que a gente marcasse um dia para que nos encontrássemos e a gente batesse um papo para rememorar a nossa juventude, que foi, com certeza, muito boa.

Roberto Baía – Qual a sua melhor lembrança dos amigos daqui, na década de 60, quando se conheceram?

Ronaldo Melo – Difícil dizer a melhor lembrança, mas eu posso lhe adiantar que uma coisa é marcante: nenhum dos amigos da época, nenhum, absolutamente ninguém, nós tivemos intrigas, brigas. Éramos sempre muito cordiais, brincalhões e solidários. Isso é uma coisa que deixa marcado essa época. Nessa época, lembrar do feito mais marcante é complicado. Nós tivemos vários, mas tivemos muitas brincadeiras.
E também, uma coisa que era habitual: o pós-aula, depois do Colégio Bom Conselho, nós nos encontrávamos na calçada da igrejinha de São Sebastião. E ali, nem imagine as fofocas que saíam.

Roberto Baía – Educador Moacir Teófilo, o que ele representa para você?

Ronaldo Melo -Tudo. Depois do professor Pedro de França Reis e Manoel Barbosa, que foram os meus primeiros diretores do Instituto São Luiz, eu fui para o CBC, e lá já encontrei o grande diretor Moacir Teófilo.
Não tem qualificação que possa traduzir quem foi o professor Moacir Teófilo. E, principalmente, como eu fazia parte da banda Marcial, ele tinha, assim, um amor. Várias vezes e coisas até interessantes, para não dizer irônicas, que eu, quando não estudava, pedia ao professor Moacir para que as minhas provas fossem adiadas, porque eu não tive tempo de estudar, mas tinha que cuidar do meu tarol. Como ele era fanático na banda, dizia: “deixe comigo, meu filho, isso eu resolvo”. E aí eu ganhava mais uma semana.
E aí, tinha a possibilidade de fazer uma prova melhor. Mesmo sendo solitário, porque a prova já tinha sido feita para os demais colegas, mas tinha um detalhe: eu sabia quais as questões, e isso era um tipo de malandragem que eu aplicava nessa época.

Manoel Ferreira Lira

Roberto Baía – Esse encontro de hoje, o que representa para você?

Manoel Lira – A volta a um passado que relembra uma vida, uma história. Eu não sei nem me expressar, mas representa tudo o que houve na nossa vida de Arapiraca dos anos 60, dos anos 70, dos anos 80.

Roberto Baía – Você estudou numa escola chamada Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho?
Manoel Lira – Eu estudei no Instituto São Luiz e no Ginásio Nossa Senhora do Bom Conselho, que depois que se transformou em Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho. E tenho a grande satisfação de ter sido professor de História.

Roberto Baía – E esses amigos aqui, estudaram também com o senhor?
Manoel Lira – Luiz Carlos foi meu colega de turma, e os outros colegas de séries diferentes, mas sempre do Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho.

Roberto Baía – E o Professor Moacir Teófilo?
Manoel Lira – É uma pessoa que a Arapiraca deve muito. A vida escolar, a vida cultural, a vida de nós todos, jovens, velhos e idosos como somos hoje, devemos ao Dr. Moacir Teófilo. Eu entrei no Colégio Bom Conselho – naquela época, Ginásio –em 1959, e fiquei lá até 62.
Depois, procurei outros rumos e voltei para o colégio em 70 para ser professor. E sempre encontrando o Dr. Moacir, do mesmo jeito, da mesma forma e da mesma maneira de encarar o ensino de Arapiraca.

Roberto Baía – Arapiraca comemora 100 anos de existência, de fundação. Qual a sua expectativa para o futuro?

Manoel Lira – Eu espero que Arapiraca seja melhor do que aquinhoada com a memória. Muitas coisas que nós tínhamos e nós comemoramos agora nesse encontro, Arapiraca não vai ter, porque existem, infelizmente, muitas pessoas que não dão o valor devido à memória.
E os 100 anos de Arapiraca que nós comemoramos, inclusive, no livro que vai ser distribuído pela Prefeitura de Arapiraca, demonstra isso. Arapiraca merece muito mais de seus habitantes do que teve até agora.

Sete homens e cem anos de histórias e prosas na porta da Igreja de São Sebastião em Arapiraca – Alagoas