Adnaldo Pereira dos Santos, mais conhecido como Pai Naldo, é um babalorixá bastante conhecido na Bahia e em todo Brasil. Em visita a Arapiraca para atender e renovar uma casa de Candomblé arapiraquense, Pai Naldo conversou com exclusividade com a equipe do Jornal de Arapiraca sobre os mitos e preconceitos que a religião de matriz africana ainda sofre no Brasil.
Pai Naldo está à frente do Ilê Axé Aidan Sileuá, em Ipiaú, recôncavo baiano, onde contribui não só com os que o procuram espiritualmente, mas também com todo o bairro e o município. A casa tem um calendário festivo, abrindo o ano em fevereiro com a festa de Oxumarê, em Julho a festa do caboclo Gentileiro, em agosto de Omolu (Akukuana) e fechando o ano, no segundo sábado de dezembro com a festa de matamba e caruru.
“Nós temos uma casa de candomblé muito grande, lá em Ipiaú, somos uma associação e fazemos um trabalho social muito grande na cidade. Eu adotei seis filhos, mas criei 35, é uma casa que tem senhoras de idade, fazemos trabalho com dependentes químicos e segundo o povo, eu sou conhecido nacional e internacionalmente, nós temos uma comunidade na Itália, que é representada pelo meu filho e nós fazemos esse trabalho atendendo vários estados, como Rio de Janeiro, São Paulo, Alagoas, além da Bahia inteira”, explica um pouco como funciona o seu Ilê.
Para ele, o Candomblé é uma religião ainda muito perseguida e apedrejada, devido à falta de informação. Contudo, ele recorda a necessidade de respeitar até mesmo o que não se conhece. “O candomblé é uma religião, só que foi uma religião muito apedrejada, as pessoas não tinham um conhecimento da religião e primeiro apedrejaram para depois buscar um conhecimento. Então tem coisas que você vê na nossa religião que você tem medo, aí quando você vai estudar você vê que ela não tem nada que meta medo. Quando você não conhece uma religião, você procura aprender, quando você não procura aprender, você procura respeitar, porque toda religião tem seu fundamento”, salienta.
O preconceito ainda é uma barreira para os filhos e filhas de santos e está enraizado na sociedade brasileira. Em um levantamento feito pela GloboNews, através do Disque 100, serviço para denunciar violações de direitos do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, o Brasil registra ao menos três vezes por dia denúncias de intolerância religiosa. Só no primeiro semestre deste ano, o país teve 545 denúncias. O estado com mais registros é São Paulo, com 111 denúncias, seguido do Rio de Janeiro, com 97, Minas Gerais (51), Bahia (39), Rio Grande do Sul (26), Ceará (11) e Pernambuco (13).
O que é uma das acusações levantadas contra a religião, segundo ele, de incluir qualquer pessoa, independente de classe social e orientação sexual, é o que a torna especial. “O candomblé faz um trabalho tão sério, eu participei de um congresso pra mais de 70 tipos de religiões diferentes e um pastor me perguntou ‘por que que na sua religiãoi tem mutio viado’, desse jeito. Eu respondi que a minha religião não tem sexo, ela tem coração, quando nós abrimos a porta da nossa casa de manhã, não escolhemos quem entra, se entra um hétero, uma mulher, um trans, nós queremos aquele ser humano, não a orientação dele. Pode chegar também na nossa casa um traficante pedindo socorro, como pode chegar um político, um médico, um doente, uma pessoa do mal, a religião faz esse trabalho de transformar”.
Mesmo com todos esses ataques, para Pai Naldo, é importante que as pessoas do axé não se sintam intimidadas e tenham orgulho de se dizer do candomblé, talvez assim o estranhamento com a religião possa diminuir.
Questionado sobre seguir uma vida política, o pai de santo relembra que na sua trajetória nunca precisou de um cargo político para ajudar sua comunidade, mas que nessas eleições permanecerá ao lado de Lula, que segundo ele, proporcionou encontros e debates na religião. “Eu gosto muito de política, já recebi muitos convites em minha cidade pra ser vice-prefeito, vereador, mas eu não quero, eu não quero nem ser presidente de bairro. Eu quero fazer a minha política fora das políticas, porque para eu ajudar, para eu me comover com a dor de quem precisa, eu não preciso de partido e não preciso ser político, mas te digo uma coisa: a religião e a política elas andam juntas. Fora isso, eu sou petista, eu faço parte do grupo de Lula, muitos me perguntam porque, mas quando Lula foi presidente nós tivemos para mais de quarenta encontro de axé, depois que ele saiu da presidência nós não tivemos nenhum”, finaliza.
Fonte: Jornal de Arapiraca. Lysanne Ferro