Chegamos às vésperas da maior festa cristã. É o momento, para os cristãos, em que o verbo se fez carne e Deus veio habitar entre eles. É, portanto, a celebração do nascimento de Jesus Cristo que iniciou sua atuação como profeta após ser batizado por João Batista e trouxe, além da palavra de Deus, uma importante mensagem social acerca do amor e da necessidade de se ajudar os mais necessitados.
Você incluiria as vítimas da Braskem na categoria de necessitados? E aqueles que, morando nas regiões afetadas pelo crime ambiental, não são assim considerados? Podemos olhar para eles como pessoas que precisam ser acolhidas?
Os filhos que viram os vizinhos de seus pais abandonarem o condomínio e foram aconselhados pelos médicos a não retirarem seus genitores de lá, porque agravaria o quadro de demência deles, podem reivindicar essa condição para eles? A família que viu todos os vizinhos do outro lado irem embora, porque estavam em risco, e vive angustiada a espera de um evento que derrube sua casa como matou sua paz, deveria ser incluída nessa categoria? O casal que economizou durante anos para comprar seu único imóvel e sem ter para onde ir permanece em um edifício abandonado pode ser chamado de necessitado?
A julgar pela entrevista dada hoje pelo porta-voz e vice-presidente global de pessoas e comunicação da Braskem, Marcelo Arantes, ao jornal Folha de São Paulo, tudo já está devidamente acertado e os acordos feitos precisam ser validados. Arantes entende que mesmo não estando claro que foi a atividade da empresa que provocou a destruição dos bairros de Maceió, ela atuou para proteger a vida das pessoas nas áreas demarcadas de risco. O cinismo presente nas respostas desse senhor só não é maior do que o crime da empresa que representa, mas evidencia o mesmo desprezo pelos maceioenses. E isso não me causa surpresa. Não é a primeira vez que uma mineradora destrói vidas sem remorso.
Entretanto, causa-me espanto que os vereadores de Maceió, todos cristãos, não desejem conhecer melhor as causas e as consequências desse crime ambiental. Por que apenas sete desejam investigar? Os outros foram contaminados pelo desprezo da Braskem e de Marcelo Arantes aos moradores da Capital?
Não é por falta de instrumento legal que os autorize a fazer essa averiguação. O art. 130 do Regimento Interno da Câmara de Maceió diz que as Comissões Especiais de Inquérito – CEI destinam-se a apurar ou investigar por prazo certo, fato determinado que se inclua na competência da Câmara Municipal e serão constituídas, independentemente de votação, sempre que o requerer pelo menos um terço dos membros da Câmara Municipal.
Temos um fato determinado, ou não? Se não temos, os vereadores de Maceió precisam informar à população qual é a dimensão dos danos causados ao subsolo, solo e aos imóveis residenciais e comerciais. Também é necessário comunicar quais são os prejuízos à população causados pelo desmantelamento da rede pública e privada de saúde, educação e transporte dos bairros afetados. Além disso, devem responder como e de que forma foram atingidas as atividades culturais e religiosas e o que tudo isso gera nos moradores que estão impedidos de expressarem sua fé e sua cultura.
O que ocorrerá com a Lagoa Mundaú, vereadores? Como sobreviverão os que tinham seu sustento retirado de lá? Vocês não acham que seria importante investigar a denúncia de que a Braskem recebe informações dos equipamentos de monitoramento antes que os órgãos públicos? E os acordos que a Braskem tem pressa em validar, não merece um olhar cuidadoso de vocês?
Se os senhores e as senhoras têm estas respostas, por favor, nos envie de presente nesse Natal. Mas se não têm, mostrem que embora não possam se comparar a Cristo, não são desprezíveis como o Marcelo Arantes.