As chuvas que atingiram Alagoas nos últimos dois meses causaram destruição e perdas irreparáveis para mais da metade dos municípios alagoanos, com seis mortes e mais de 56 mil pessoas desabrigadas e desalojadas, de acordo com o último boletim da Defesa Civil, divulgado no último dia (4).
Entre os afetados, estão os agricultores que plantaram milho, feijão, macaxeira, hortaliças e até fumo para este inverno. As chuvas intensas que caem no agreste alagoano desde maio já atingiram mais de um mil milímetros, o esperado para o ano inteiro. As chuvas alagaram as lavouras e adoeceram as plantações do Agreste e região. Os prejuízos são vistos na colheita. A estimativa é de que a colheita seja 70% menor do que a do ano passado. Dados apontam que, no ano passado, um agricultor agrestino poderia colher até 150 sacos de milho por hectares neste mesmo período do ano. Em cerca de 60 dias, em apenas 14 dias foram ensolarados, mas não o suficiente para garantir que a lavoura cresça saudável. Os danos ultrapassam ao que foi plantado neste período, segundo o engenheiro agrônomo e secretário de Desenvolvimento Rural de Arapiraca, Hibernon Cavalcante. “De maio para cá tivemos chuva em mais 55 dias. Isso não aconteceu nos últimos 50 anos. Além disso, foi o volume acumulado neste período ,entre 850 a próximo a 1000mm, dependendo da localização, superior à média histórica do total anual. Além dos prejuízos de instalações produtivas como açudes, estradas, pontes, tanques de peixes e camarões. Tivemos muita erosão de solos e processos contínuos de encharcamento de solos, prejudicando enormemente o plantio em geral ou mesmo impedindo o preparo de solo para plantio”.
A agricultora Joseane Pereira de Souza, junto ao marido, semeia há 5 anos três tarefas de terra. Este ano, as chuvas alagaram as plantações de milho e impediram o crescimento das plantas. Segundo ela, a colheita deste ano será 70% a menos do ano passado. A produtora já não tem mais esperança de salvar a colheita, mesmo que os próximos dias sejam de sol.
“A gente não tem esperança mais da produção melhorar, porque a planta já passou da sua fase de desenvolvimento. Então, agora ela já não reage mais”, conta Joseane.
Douglas Gonçalves tem acompanhado o sogro nos últimos anos nas plantações e decidiu este ano colocar a própria e foi surpreendido pelas fortes chuvas. Nesta temporada, ele e o sogro plantaram quatro tarefas de inhame. “As chuvas têm afetado demais as plantações, não pode só chover nem só fazer sol, precisa de um equilíbrio para que a produção cresça saudável”, salienta.
A sua plantação sofre com o crescimento rápido de matos ao redor, pois a chuva impulsiona o seu crescimento e durante isso, toma os nutrientes do solo que seriam para a safra.
A plantação de fumo, inhame e mandioca de José Eliton que trabalha com a terra há mais de 35 anos no sítio Varzinha, município de Feira Grande. “Nunca vi tanta chuva em dois meses prejudicar tanto nós agricultores. Planto fumo, inhame e mandioca, não dá pra manter nossas roças limpas por conta da chuva, muitos insetos e lagartas, além do preço dos venenos e defensivos que estão muito alto, a lavoura não cresce por conta das terras muito frias, principalmente o fumo que é meu carro chefe. Acho que este ano não consigo fazer 50 por cento dos anos passados, prejuízo enorme para nós agricultores”, lamenta o agricultor.
Além de tudo, as chuvas ocasionaram doenças para o plantio. “A alta umidade no ar e no solo propiciam o desenvolvimento de fungos e bactérias que podem ocasionar doenças nas plantas. Esse ano, além dessa condição, temos na maioria dos cultivos plantas debilitadas por falta de nutrição adequada. Excesso de chuvas ocasionam lixiviação dos fertilizantes aplicados e, consequentemente, desenvolvimento abaixo do normal. Uma planta mal nutrida pode ficar mais suscetível a doenças. Foi esse conjunto que fez a ocorrência de perdas de ciclos – safras e colheitas – de alface, coentro e cebolinha que têm de 30 a 45 dias do plantio à colheita. Folhas pequenas, manchadas, apodrecidas, sem condições de consumo”, explica o secretário.
Fonte: Jornal de Arapiraca/ Lysanne Ferro