Fatos que marcaram a história política de Arapiraca

Foto: capa Jornal de Arapiraca
Da esquerda para direita: José Oliveira, Higino Vital, José Lúcio de Melo, Antônio Juvino, João Lúcio da Silva, Alonso de Abreu Pereira, Ivens Malta, Claudenor de Albuquerque Lima, José Pereira Lúcio, Coronel PM Raimundo, Geraldo de Lima e Silva, Antônio Ventura de Oliveira, Lourenço de Almeida, Rivaldo Lins. Foto: Arquivo

Cabanos e caras-pretas Adversários, sim;  inimigos, não.

Arapiraca, a partir dos anos 50, cresceu em duas frentes: os cabanos, seguidores políticos da família Lúcio, e os caras-pretas, que seguiam politicamente Luís Pereira Lima e seus filhos. De um lado, com a redemocratização de 1946, a UDN (União Democrática Nacional), partido seguido por João Lúcio da Silva, seu irmão, José Lúcio, José Pereira Lúcio, Domingos Vital da Silva, José Marques da Silva, Benício Alves e outros: do outro lado, seguidores do PSD (Partido Social Democrático) Luís Pereira Lima, seu filho Claudenor Lima, José de Oliveira, Antônio Juvino, Higino Vital da Silva e, pouco depois, Lourenço Almeida.

De adversários políticos, passaram para inimigos e, até, para mortes violentas, como a do vereador Domício Alves e do deputado Marques da Silva, além da tentativa de assassinato do tenente (depois, major) Vicente Ramos.

No campo social, a divisão entre cabanos e caras-pretas foi nítida: os cabanos fundaram o Clube dos Fumicultores; os caras-pretas criaram a ARA (Agremiação Recreativa de Arapiraca), com prédio próprio situado na hoje rua Pedro I, bairro São Luiz. Bailes de carnaval, por exemplo, eram com foliões separados, isto é, adversários não se misturavam, iam para o Clube dos Fumicultores ou para a ARA.  

Algum tempo depois, felizmente, a partir da última década do século vinte, com a integração entre os filhos desses arapiraquenses, a inimizade política foi dando vez a simples adversários partidários. Arapiraca, agora, é um espelho desta integração entre seus filhos.

TENTATIVA DE PAZ

Primeira e única vez que as forças políticas e antagônicas de Arapiraca se reunem em praça pública (praça Luís Pereira Lima, em frente ao Grupo Escolar Hugo Lima). A foto é dos anos 60. Pode-se identificar, da esquerda para direita:

1- José Oliveira (ex-vereador), 2 – Higino Vital (ex-vereador, ex-deputado estadual e ex-prefeito), 3 – José Lúcio de Melo (ex-vereador e ex-deputado estadual), 4 – Antônio Juvino (ex-vereador), 5 – João Lúcio da Silva (ex-prefeito e ex-senador da República), 6 – Alonso de Abreu Pereira (ex-vereador e ex-deputado estadual), 7 – juiz de direito Ivens Malta, 8 – Claudenor de Albuquerque Lima (ex-deputado estadual), 9 – José Pereira Lúcio (ex-vereador e ex-deputado federal), 10 – coronel PM Raimundo, 11 – Geraldo de Lima e Silva (ex-vereador e ex-juiz de direito), 12 – Antônio Ventura de Oliveira (ex-vereador), 13 – Lourenço de Almeida (ex-vereador), 14 – Rivaldo Lins (ex-promotor de justiça).

A OPOSIÇÃO

Higino Vital da Silva (1927/1975)

Higino Vital da Silva é de Arapiraca, mas começou sua vida de comerciante, no ramo de farmácia, em Coité do Noia (AL). Lá, também, deu início a uma vida de política, elegendo-se vereador. Não satisfeito, voltou a Arapiraca, continuando como proprietário de farmácia. Seu amor à política, levou-o à Câmara de Vereadores. Em 1966, foi eleito deputado estadual e, em 1970, reeleito. Em outubro de 1973, conquistou sua maior vitória: foi eleito prefeito do município, governando, contudo, somente até 1974, quando se afastou para tratamento médico de uma doença que o levou à morte um ano depois. Conseguiu, entretanto, mesmo doente, elegeu sua mulher, Luiza da Silva, deputada estadual.

DA BODEGA À POLÍTICA

Luiz Pereira Lima

Chegando de Serra Talhada (Pe), em 1928, antes passou por Cacimbinhas (casando-se com Afra Albuquerque) e Palmeira dos Índios, instalou-se na Boca da Caixa, hoje rua 15 de Novembro. Alí, numa bodega, vendeu banana, pinha, jaca e até aguardente; depois, plantou, comprou e vendeu fumo em folha e fumo em corda.  Cresceu rapidamente no comércio e enveredou na política. Foi eleito prefeito de Arapiraca, governando o município de 1948/1951. Dois de seus filhos, Claudenor de Albuquerque Lima (4 vezes) e Cláudio de Albuquerque Lima (uma vez) foram deputados estaduais. O mais novo dos filhos foi Claudisbel de Albuquerque Lima. Durante muitos anos comandou a ala política conhecida como “os caras-pretas”, isto é, oposição aos Lúcios (João e José Lúcio), além do deputado Marques da Silva, todos udenistas.  Elegeu o genro, Coaracy da Mata Fonseca (que foi casado com Severina (Silvia) de Albuquerque Lima), prefeito de Arapiraca.

O SENADOR

João Lúcio da Silva (1914/1985)

De nascido no sítio Caititús (hoje um dos bairro de Arapiraca) e órfão aos oito anos, de família humilde (filho de Salustiano José dos Santos e Rosa Maria da Silva), até senador da República (1981/1983), onde conviveu com as maiores figuras da política brasileira da época, João Lúcio da Silva engrandece o povo deste município. Foi enxadista (vivendo do trabalho na roça), pequeno comerciante e plantador de fumo. Enveredor na política, juntamente com seu irmão José Lúcio, sendo eleito por duas vezes prefeito de Arapiraca (de 1956/1960, pelaUDN e de 1966/1969, pela ARENA). Suplente, com a renúncia por motivo de doença do senador Arnon de Melo, assumiu uma cadeira no senado federal. Foi protagonista, durante muito tempo, de uma luta político-partidária entre seus liderados, da UDN (União Democrática Federal) e os liderados por Luís Pereira Lima, do PSD (Partido Social Democrático), com mortes de ambos os lados. O desenvolvimento e o progressso de Arapiraca surgem a partir de sua primeira administração pública. Durante os 90 anos de emancipação política de Arapiraca, o governo federal, através dos Correios, homenageou-o, com o lançamento de um selo comemorativo.

POLÍTICO E MÉDICO

Nascido em Canudos (hoje o município de Belém/AL), com curso de medicina em Salvador (Ba), chegou, em 1954, a Arapiraca apresentado à família Lúcio pelo senador Rui Palmeira (UDN). Como médico clínico (geral), Marques da Silva logo angariou a simpatia e a confiança dos arapiraquenses. Entrou na política, tendo sido eleito o deputado estadual mais votado do estado, pela legenda da UDN. Combativo.

Deputado José Marques da Silva foi assassinado em praça pública

Adversários (comandados por Luís Pereira Lima e seus filhos Claudenor Albuquerque Lima e Cláudio Albuquerque Lima, do PSD). Foi assassinado em fevereiro de 1957, em frente a Igreja de São Sebastião, na praça Gabino Besouro, hoje praça Marques da Silva, em sua homenagem.  Antes, em carta testamento escrita ao presidente nacional da UDN (senador Milton Campos) denunciou os futuros assassínios, enumerando-os. 

Alguns que participaram do assassinato foram condenados.

Vereadores nos anos 60. Foto: Arquivo

Vereadores, ANOS 60

Da esquerda para direita os vereadores: Geraldo de Lima e Silva (Geraldo do Neguinho, ex-juiz de direito), Antônio Ventura de Farias, José Lúcio de Melo (também ex-deputado estadual),  Alonso de Abreu Pereira (também ex-deputado estadual), Higino Vital da Silva (também ex-deputado estadual), Letícia Barbosa (a primeira vereadora mulher de Arapiraca),  Antônio Juvino da Silva, Domingos Vital e Lourenço Almeida. Ao fundo, o advogado da Câmara Municipal de Arapiraca, Raimundo  Araújo.

O deputado e os vereadores (1953/1954): UMA REUNIÃO POLÍTICA

O deputado estadual Claudenor de Albuquerque Lima (PSD), ao lado de cinco vereadores arapiraquenses (da esquerda para a direita: José Lúcio de Melo, Domingos Vital da Silva, José Oliveira e Silva, José Ferreira Barbosa e Alípio de Oliveira Caldas). Oposição e situação juntas, durante um pequeno período de paz política em Arapiraca nos idos dos anos 1952/1954. Esta paz durou pouco, pois logo depois houve as mortes do vereador Benício Alves de Oliveira (em outubro de 1956) e do deputado estadual José Marques da Silva (em fevereiro de 1957).

Lourenço de Almeida (1915/1978): POLÍTICO E MESTRE

Professor, poeta, prosador, político, “bom vivant”. Era um  cavalheiro. Sempre solícito, nascido no engenho Triunfo, distrito de Cajueiro, em Capela (AL), chegou a Arapiraca em 1945, depois de percorrer Maceió, Quebrangulo e Limoeiro de Anadia, (onde casou-se com Alvacy de Souza Vieira). Aqui, por muitos anos foi contador das empresas do cunhado Valdomiro Barbosa, principalmente na Força e Luz em Arapiraca. Na política, foi secretário-geral da Prefeitura de Limoeiro de Anadia e, em Arapiraca, vereador pelo PTN (Partido Trabalhista Nacional) e um dos aliados do PSD, que era liderado por Luís Pereira Lima. Foi professor do Ginásio Nossa Senhora do Bom Conselho, hoje CBC.

José Pereira Lúcio (1931/2005): PRIMEIRO DEPUTADO FEDERAL

Bisneto do fundador de Arapiraca, foi um político por natureza. Aluno da professora Francisca Macedo, fez o primário no Grupo Adriano Jorge; o antigo ginásio, fez em Maceió, no Colégio Marista e no Guido de Fontgaland. Estudou o curso clássico no Colégio Estadual da Bahia (Central), indo terminá-lo no Rio de Janeiro, no Colégio Jurema. Foi político, exercendo, aos 23 anos, o cargo de vereador de Arapiraca, em 1954, pela UDN (União Democrática Nacional), fundada por seu pai. Assumiu interinamente a prefeitura e, em 1958, foi eleito deputado estadual com 27 anos de idade. Depois, foi deputado federal, a partir de 1963, por duas legislaturas. Em Arapiraca, fundou o Colégio de 1º e 2º graus José Pereira Lúcio; foi um dos fundadores do JORNAL DO AGRESTE, semanário que circulava aos sábados, juntamente com Nascimento Leão e Edson Holanda Moreira.

O então deputado Claudenor Araújo e vereadores. Foto: Arquivo

Claudenor de  Albuquerque Lima: PROFESSOR E POLÍTICO

Filho de Luís Pereira Lima, logo se destacou na política, como o pai. Advogado, foi um dos fundadores do Ginásio N. S. do Bom Conselho (hoje colégio CBC), tendo sido um dos primeiros diretores. Deixou o cargo para ingressar na vida pública: como deputado estadual foi eleito por quatro vezes: em 1951/1954 (PTN), 1955/1958 (PSD), 1959/1962 e 1963/1966 (PST). Em 1986, pela Coligação PMDB-PTB-PcdoB e PSC não conseguiu se eleger. Durante seus mandatos, influenciou a política de Arapiraca, principalmente quando era governador Muniz Falcão, seu correligionário. Foi, também, acusado de mandante do assassinato do deputado Marques da Silva, em 1957. O tribunal do juri o absolveu. Fundou e dirigiu, por algum tempo, a Rádio Cultura de Arapiraca, que funcionava no bairro São Luís.

Benício Alves de Oliveira (1916/1956): VEREADOR DESTEMIDO

Nascido no sítio Nogueira, em Anadia, em 1916, destacou-se, antes de sua vida em Arapiraca, como empregado da empresa Comércio e Construção, que prestava serviço a Great Western – linha de ferro Maceió/Porto Real do Colégio. Era apontador de obras. Em Arapiraca, além  de continuar o trabalho na linha férrea, enveredou-se no comércio (com armazém de secos e molhados no bairro de Cacimbas e outro em Lagoa da Canoa). Possuía um caminhão para fretes; na política, foi vereador, de 1954/1958, pela UDN, partido comandado pelo deputado e compadre José Marques da Silva. Homen de palavra, sincero, foi morto por emboscada quando estava no povoado Alexandre, hoje zona rural de Lagoa da Canoa, em outubro de 1956. É denominação de rua no bairro Cacimbas, em Arapiraca.

Francisco Pereira Lima. Foto: Arquivo

SERIEDADE: Francisco Pereira Lima (1905/1996)

Aqui chegou na década de 20, oriundo de Serra Talhada (Pe), conhecida à época como Vila Bela. Foi comerciante (Loja Brasil), fumicultor e pecuarista. Ingressou na política pelas mãos do prefeito João Lúcio da Silva, tendo administrado a municipalidade de 1961 a 1965. Adquiriu, com recursos próprios do município, a primeira máquina caterpilla para abrir e conservar estradas. Sua administração é considerada uma das melhores de Arapiraca, pela sobriedade, desenvolvimento e honestidade. Era irmão de Luís Pereira Santos e primo de Luiz Pereira Lima. Foi auxiliado como secretario geral da prefeitura pelo advogado e promotor Miguel Valeriano da Silva. A família o homenageou, durante a missa de 7 dia, com a frase: “O que você conseguiu fazer foi modificar o seu nível de consciência, bem mais evoluído do que você deixou”.

Fonte: Eli Mário Magalhães e Manoel Lira

Produção Editorial: Roberto Baía e Carlo Bandeira