Feminicídio: bancário mata esposa na frente dos filhos e depois morre em colisão em Arapiraca

Foto: Divulgação

A noite da última terça-feira, 19, jamais será esquecida na Rua Fernando Lourenço, bairro Boa Vista, em Arapiraca. Não apenas os moradores do município lembrarão dessa data, mas todos os alagoanos que demonstraram sua indignação nas redes sociais sobre o feminicídio que aconteceu em uma das casas da rua. 

A vítima foi a bancária Daniela Fernanda Silva Belo, 29 anos, que foi brutalmente assassinada por golpes de arma branca pelo marido, Diego Fernandes Lira da Silva. O crime se torna ainda mais bárbaro pelos relatos de que possivelmente foi cometido na presença dos filhos de 3 e 5 anos. 

Após cometer o feminicídio, Diego mandou um áudio para a irmã de Daniela, que mora em Maceió, informando que havia matado a esposa e que a cunhada deveria ir buscar as duas crianças. “Ingrid, matei sua irmã. Venha pegar os meninos em Arapiraca”. 

Sem ter como ir verificar a veracidade do relato do cunhado por morar na capital, a mulher acionou a polícia e informou que o indivíduo já estava ameaçando sua irmã há dias.

De acordo com a irmã, na semana passada, Daniela ligou para ela preocupada após assistir a uma reportagem no Paraná que retratava um caso de feminicídio em que o homem havia matado a esposa e os filhos porque não aceitava o fim do relacionamento. “Minha irmã disse que tinha medo que o Diego fizesse o mesmo com ela e com as crianças”, contou. A cunhada confirmou a personalidade possessiva de Diego e que isso fez com que o relacionamento esfriasse. 

Diego também ligou para um vizinho e afirmou que a esposa havia se suicidado e pediu para que o vizinho fosse buscar as crianças na residência. A esposa do vizinho foi até o local e encontrou o filho mais velho do casal, de 5 anos, segurando a mão da mãe já sem vida. “Quando eu cheguei na sala da casa, encontrei o filho mais velho segurando a mão da Daniela que já estava morta. Eu sai correndo gritando com aquela cena e fui chamar meu marido para me ajudar”, contou a vizinha. Segundo as informações, a própria criança relatou tudo que aconteceu na casa

Após o crime, o acusado morreu em um acidente automobilístico que o mesmo provocou. O bancário jogou o próprio carro contra um caminhão que seguia na mão contrária, na localidade conhecida como Ladeira do Bolívar, sentido São Sebastião.

O condutor e o passageiro do caminhão ficaram feridos com o impacto da colisão. De acordo com informações, o condutor do caminhão ainda tentou frear e puxar o veículo para fora da pista, mas Diego Fernandes teria acelerado o carro, para causar o impacto. 

O condutor do caminhão ficou ferido e foi levado para uma Unidade de Pronto Atendimento e o passageiro quebrou o braço. 

Já Diego Fernandes morreu na hora, sem tempo de receber socorro médico. As guarnições do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv) e do Centro Integrado de Segurança Pública (CISP) de São Sebastião foram ao local do acidente. 

O titular da Delegacia de Homicídios de Arapiraca, Everton Gonçalves, confirmou que o caso se trata de um feminicídio, quando o homicídio é praticado contra a mulher em decorrência do fato de ela ser mulher ou em decorrência de violência doméstica. Segundo o delegado, Diego Fernandes assassinou a esposa, por sentir “ciúmes excessivo” dela.

INDIGNAÇÃO  

Nas redes sociais, mulheres se manifestaram sobre o fato e demonstraram apoio para combater esse tipo de crime que já tirou a vida de centenas de mulheres em Arapiraca. 

Em relatos feitos nas redes sociais, muitas confessaram se sentirem inseguras mesmo com leis que coíbem ações como essa. “Infelizmente uma mulher namora, casa e corre risco. O que vamos falar para nossas filhas e filhos futuramente tudo é risco para as mulheres”. 

Entre os comentários, o de um amigo de Diego, que defendeu a memória do bancário. Segundo ele, jamais poderia imaginar tal tragédia. “Diego era um cara incrível! Jamais poderia imaginar que uma tragédia dessa poderia acontecer em sua família. Mas o inimigo é perverso demais! Lamento imensamente que tenha acontecido quem o conhecia jamais poderia imaginar esse fim. Orem por suas famílias! Não Juguem!”, disse Dennys Silva, em resposta às centenas de comentários sobre o crime.

“Me surpreendeu completamente. Eu jamais diria que ele poderia fazer um mal  a uma mosca. A Dani era maravilhosa, muito trabalhadora, uma mãe exemplar… que dor saber dessa tragédia… que tristeza”, lamentou outra mulher.   

Daniela Fernanda Silva era bancária, havia trabalhado no banco Santander e Banco do Nordeste de Arapiraca, mãe exemplar e querida por amigos e familiares. Diego Fernandes também era bancário e trabalhava no Banco Bradesco de Penedo.

De acordo com as últimas informações, as crianças estão com os avós maternos e o sepultamento será na capital, onde reside a família de Daniela.

É PRECISO DENUNCIAR

Infelizmente, casos bárbaros como o de Daniela não são isolados. Alagoas registrou 20 casos de feminicídio de janeiro a outubro de 2021, segundo o  Núcleo de Estatística e Análise Criminal (NEAC) da Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP). O dado aponta uma redução comparado ao ano anterior, que no mesmo período contabilizou-se 30 casos. 

Para que se evite que histórias como essa se repitam, qualquer sinal de violência contra mulher deve ser denunciado para o Disque 180. A denúncia pode ser feita de forma anônima. Além deste telefone, há ainda a opção de denunciar via 190, canal de atendimento da Polícia Militar, Disque 100, Telegram, no canal “Direitoshumanosbrasilbot” ou pelo aplicativo “Direitos Humanos Brasil” (para iOS e Android)

Em Arapiraca, o Centro de Referência e Atendimento à Mulher é um dos pontos de apoio a mulheres que são vítimas da violência doméstica. Lá, as mulheres recebem, além do acolhimento, apoio e encaminhamento para os demais atendimentos de proteção. Em apenas um semestre de 2021, o CRAMSV atendeu 439 mulheres. O CRAMSV integra a Rede de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher.

É um serviço realizado por uma equipe multiprofissional que presta acolhimento, orientações, encaminhamentos e acompanhamento.

A sede do CRAMSV fica na Rua Governador Luís Cavalcante, 1150, no bairro Alto do Cruzeiro. Os telefones para contato são 3539- 4017/ 99991-2443. O atendimento pode ser jurídico, assistencial e/ou psicológico, em uma ou mais sessões. É individual, gratuito e totalmente sigiloso.

Fonte: Jornal de Arapiraca

Rafaela Tenório e Lysanne Ferro