No livro ‘O dilema de Hamlet: o ser ou não ser da consciência’ Mauro Iasi indaga como os indivíduos moldados para a conformidade e o consentimento podem se rebelar contra a ordem que os moldou? E responde: em determinadas circunstâncias, os indivíduos questionam a consciência que lhes foi atribuída e passam a orientar suas atividades por outros valores e, desenvolvem uma ação que chamamos de militância.
Desde 1995, no 7 de setembro, o Grito dos Excluídos e Excluídas, uma manifestação popular carregada de simbolismo, que integra pessoas, grupos, entidades, igrejas e movimentos sociais, sai às ruas com bandeiras de lutas caras a maioria do povo brasileiro, numa clara demonstração de que é possível uma consciência política popular que se entenda como sujeito coletivo de uma transformação necessária, como diria Iasi.
Este ano foi a 27ª edição e conforme o site do movimento, a principal razão para a escolha do dia 7 de setembro para a realização do Grito dos Excluídos e Excluídas, desde o início, foi fazer um contraponto ao Grito da Independência. Nunca é demais lembrar que os importantes levantes populares em busca da independência do país como o de Minas Gerais, a Inconfidência Mineira; da Bahia, a Revolta dos Alfaiates e o de Pernambuco, na qual surgiu um lampejo de noção dos direitos sociais e políticos, não lograram êxito. E foi o padrão político português, fundado na soberania do príncipe e sustentado pela burguesia comercial de origem lusa que delineou a face da descolonização brasileira.
Além de questionar os padrões de independência do povo brasileiro, a manifestação busca uma reflexão sobre um Brasil que deve ser mais justo e com oportunidades para todos os cidadãos. Para Dom José Valdeci Santos Mendes, bispo da diocese de Brejo, no Maranhão, e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Ação Sócio Transformadora da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o grito é sempre atual no sentido de questionar todas as mazelas que estão aí na sociedade. Assim, dizemos que precisamos lutar pela vida e pela vida com dignidade.
O Grito dos Excluídos e Excluídas reuniu cerca de 300 mil pessoas em 200 cidades do Brasil e do exterior e pela primeira vez a defesa da democracia entrou na pauta do movimento que historicamente foca seus esforços no combate à miséria e ao desemprego. Em Maceió, os organizadores foram as frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, movimentos populares e Centrais Sindicais.
O ato ocorreu na orla da Pajuçara e os gritos que ecoaram foram em defesa da liberdade de expressão, comida no prato, em defesa do Sistema Único de Saúde – SUS e denunciando as mortes das minorias – população negra e os LGBTQIA+. Em suas redes sociais, a Professora Valéria Correia, candidata a prefeita de Maceió pelo PSOL nas últimas eleições, disse que a luta é por um povo livre da opressão, da fome, do desemprego, do preconceito e da ausência de direitos sociais.
Todos os anos no dia em que se comemora a Independência do país, os gritos dos excluídos e excluídas nos acordam para o Brasil real e como disse a socióloga Ana Laurindo – como tem para ensinar essa mulher que abre sulcos na terra e semeia o amanhã! A mulher Sem Terra que ara a terra, confia na semente e vem pra rua gritar. Assim, se queres caminhar para o infinito, andas para todos os finitos.
No outro evento, em outro ponto de Maceió ouve-se os gritos pela intervenção militar no Brasil e o fechamento do Supremo Tribunal Federal – STF. Em São Paulo, diante de mais de 100 mil brasileiros o Presidente da República consciente de seus crimes, temendo ser preso, põe uma ‘corda’ no pescoço e clama para que alguém a puxe e o transforme em mártir. Não sendo original, dele não se tira novas lições, mas sempre há uma expressão nova para se aprender – FLOPOU?