Memória, resistência e imprensa popular: a trajetória de A Voz do Povo, segundo Geraldo de Majella

Geraldo de Majella – Foto: Divulgação

O historiador e jornalista Geraldo de Majella lança, com o apoio da Câmara de Estudos Políticos da Vice-Governadoria de Alagoas, a obra A Voz do Povo – A história do jornal que sobreviveu à violência de governadores, formou profissionais e provocou a fúria da elite de Alagoas. O livro marca a estreia editorial da Câmara, coordenada pelo vice-governador Ronaldo Lessa, e traz à tona a trajetória de um dos mais combativos jornais da imprensa alternativa alagoana.

O texto de orelha é assinado por Cícero Albuquerque, professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), graduado em História, mestre em Sociologia e doutor em Ciências Sociais. Em sua leitura, Albuquerque vai além da contextualização histórica do jornal e propõe uma crítica direta à forma como a memória coletiva alagoana tem sido construída — com apagamentos sistemáticos das lutas populares e da atuação de seus protagonistas.

“Compreendo que Alagoas é uma sociedade que cultiva pouco o estudo, a pesquisa e o autoconhecimento. Sabemos pouco de nós mesmos. Sabemos menos ainda da história do nosso povo, de suas lutas, organizações e lideranças”, afirma o professor. Para ele, a historiografia tradicional tem reproduzido uma lógica elitista: “As classes populares são esquecidas ou abusadas pela escrita, como bem nos diz Dirceu Lindoso. A historiografia dominante conta a história das classes dominantes. Quando registra a presença do povo, é para desqualificá-lo — são os ‘vadios’, os ‘baderneiros’, os ‘insolentes’, os ‘preguiçosos’.”

Apesar do diagnóstico crítico, Cícero aponta avanços nos últimos anos, especialmente com o crescimento das pesquisas produzidas nas universidades públicas do estado. “Várias são as produções de pesquisadores e pesquisadoras da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal). Esse é um fenômeno alvissareiro, mas não é único. Fora do ambiente acadêmico existe vida, estudo, pesquisa, produção e circulação de conhecimento. Geraldo de Majella e sua obra são exemplos disso.”

Definindo Majella como um “intelectual social inquieto”, Albuquerque destaca o diferencial de sua produção: o foco no povo como sujeito histórico. “O ponto de partida da sua produção é o lugar do povo e daqueles que ombrearam com ele em suas lutas por justiça.”

O livro resgata a experiência do jornal A Voz do Povo, considerado a principal referência da imprensa popular em Alagoas, a partir de 1946 até o golpe militar de 1964. “Foi a mais importante experiência de imprensa popular, um periódico comprometido com a causa das classes populares do campo e da cidade em Alagoas”, afirma o professor.

Além de narrar a trajetória do jornal, a obra de Majella permite acompanhar a atuação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) em Alagoas durante quase duas décadas. “E como não ser tocado pelo testemunho histórico de homens e mulheres, militantes que sonharam, viveram, lutaram e morreram buscando outro modelo de sociedade e que tinham orgulho de serem chamados ou chamadas de comunistas?”, provoca Cícero Albuquerque.

A publicação, segundo ele, é também uma contribuição para a disputa de memória e a construção de uma Alagoas mais justa. “Alagoas pode ser um lugar melhor de vivermos quando a sua história e o seu passado não forem controlados por quem dominou, explorou e violentou o seu povo. Vivas à Voz do Povo!”

Lançamento

Dia: 19 de maio
Horário: 19 horas
Local: Armazém Guimarães
A. Dr. Antônio Gomes de Barros, 188, Jatiúca, Maceió

Por Geraldo de Majella