Fonte: Jornal de Arapiraca
26/08/2021 08h26
O Jornal de Arapiraca recebeu um comunicado da Mineração Vale Verde (MVV) que relata diversos assuntos relacionados com as atividades relacionadas com a extração de minério no Agreste alagoano.
O texto traz uma série de informações, porém nenhuma delas responde aos questionamentos feitos por mais de uma vez à indústria mineradora instalada no município de Craíbas.
A MVV afirma que “está sempre aberta ao diálogo, agindo de forma ética, transparente, e refletindo seus valores e princípios empresariais em todas as suas ações”, sem acrescentar um dado sequer sobre quanto paga de impostos aos municípios de Craíbas e Igaci e ao governo estadual.
O questionamento chave da nossa redação é necessário para que possamos informar quanto de recurso foi investido pela MVV em Alagoas, principalmente nas duas cidades onde a Vale Verde retira matéria-prima de alto valor comercial, especialmente no mercado internacional.
A mineradora alega que os pontos da pauta abordam “temas já encaminhados a profissionais alagoanos de comunicação em duas Cartas Abertas à Imprensa”, informes sobre contratação de mão de obra local, redução do ISSQN, compensação ambiental, compensação fiscal, transporte de minérios, barragem e uso de água bruta no empreendimento.
De fato, os comunicados foram distribuídos para a mídia alagoana, mas nenhum deles revelam o que tentamos mostrar para informar à população que ainda espera a propagada redenção econômica do Agreste alagoano, a partir da instalação do Projeto Serrote em Craíbas.
O nosso trabalho de campo mostra que o desemprego é crescente na região, agravado pela pandemia de Covid-19. Quantos as prefeituras receberam é imprescindível para questionar os gestores sobre como foi aplicado o recurso, essa é a lógica da insistência por cifras ainda não reveladas, da forma como solicitamos e como fomos orientados a enviar as perguntas que continuam sem resposta.
Da relação direta com o poder público, a MVV informa que representantes da mineradora reúnem-se mensalmente com membros das Prefeituras e das Câmaras de Vereadores de Craíbas e Arapiraca para “alinhamento contínuo das ações que a empresa desenvolve nos municípios”, visando a integração com as comunidades que acolhem a mineradora.
Medo
O que temos constatado, no contato direto com moradores do entorno do Projeto Serrote, é o medo das explosões na mina, imóveis com rachaduras que não haviam antes do início das atividades de mineração (conforme relato dos entrevistados).
A Vale sustenta que os danos registrados pelo Jornal de Arapiraca não têm relação com suas atividades porque a empresa “segue e está dentro de todos os parâmetros exigidos pela lei em vigor”.
A MVV afirma ainda que o processo chamado de “desmonte controlado” é realizado o monitoramento de ruído e vibração e não há registro de ocorrências em nossos sismógrafos que excederam os parâmetros estabelecidos pela legislação vigente e que muitos desses monitoramentos contaram com a participação de representantes das comunidades.
Outro problema levantado por nossa reportagem é a perda de animais, supostamente impactados pelas mudanças impostas ao ambiente, antes tranquilo, do campo, situação sob investigação do Ministério Público Federal, conforme matéria publicada no Novo Extra Alagoas.
Barragem
Sobre a barragem de rejeitos do Projeto Serrote, a MVV informa que ela está localizada a mais de 2 km da comunidade mais próxima e que o sistema de alerta de emergência nas comunidades compreende uma área de até 10 km a partir do eixo da barragem com remota possibilidade de haver algum incidente.
Caso uma tragédia semelhante a que ocorreu em Minas Gerais venha a acontecer, a MVV diz estar preparada “para agir juntamente aos órgãos competentes (Prefeituras de Craíbas e Arapiraca, Defesa Civil, Polícia Militar, Bombeiros e Agência Nacional de Mineração) e à população”.
A evacuação seria feita por “25 rotas de fuga e 13 pontos de encontro, com ampla divulgação aos moradores, em atendimento a todas as exigências legais em vigor”.
Além disso, a MVV aponta que a barragem do Projeto Serrote “possui método construtivo robusto e diferente das barragens tradicionais que romperam em Minas Gerais, utilizando dique de partida com solo compactado e alteamento a jusante com material rochoso” e que, em breve, será feito um simulado com moradores da região, treinamentos suspenso devido a pandemia de Covid-19.
A Vale Verde diz que mantém diálogo permanente com as comunidades de sua área de influência direta, inclusive por meio de reunião semanais que avaliam e, “de forma simbólica”, legitimam a continuidade dos trabalhos da mineradora, autorização amparada em votação secreta que rendeu 93% de aprovação média das atividades da mineradora em 2020, conforme consta no comunicado enviado ao Jornal de Arapiraca.
A Vale acrescenta que durante os anos de 2020 e 2021, mais de 650 vizinhos das 14 comunidades situadas em sua área de influência direta (Lagoa do Mel, Pau Ferro, Lagoa da Cruz, Baixa do Silva, Uruçu, Mundo Novo, Lagoa da Cupira, Pixilinga, Cupira, Torrões, Umbuzeiro, Lagoa Torta, Corredor e Itapicuru) participaram de reuniões presenciais ou virtuais.