O passado se foi e o futuro não veio, o presente é o que tenho.
O presente é o palco das minhas escolhas: dos meus acertos, dos meus desacertos.
No presente, eu sou feliz… ou não. Nele eu me encontro. Nele eu também me perco.
O presente é o tempo de superar os medos e é também o tempo de sucumbir diante deles. O presente é o que é, e nada mais é do que a hora insuspeita.
Sendo o momento exato, ele não me permite confundir suas dores com o sofrimento do passado. Na verdade as agruras do ontem perdem importância diante das atuais, ainda que tenham sido mais agudas.
E embora as alegrias do antes alimentem meus sinais vitais, creio que elas invadiram a minha corrente sanguínea e nela se transformaram em algo que não é possível ver. Encontro-me incapaz de analisá-las e senti-las.
O desinteresse nelas tanto pode ser fruto das minhas limitações como investigadora dos fenômenos emocionais, como pode ter nascido da fuga a mergulhos profundos em rios passados, onde se encontram mais do que alegrias. Assim, dedico-me a cultivar os contentamentos do hoje.
Também não vivo o futuro, os sonhos me angustiam. Minha utopia é contida como são também meus arroubos. Criei com o porvir um tipo de vínculo cujas características não me afligem. Gosto mesmo é de ficar plantada no presente.
Gasto boa parte dele observando as suas marcas em mim. Marcas forjadas pela felicidade da conquista do ser ou pelo desencanto de não ter sido. Passado o tempo em que foram geradas, elas já não se diferenciam de mim: deixam de ser marcas e eu, em razão delas, já sou, no novo presente, um outro EU finito.
O outro EU perambula de olhos atentos pelas esquinas desse novo presente. Nelas há várias possibilidades e, de tão variadas, tornam as minhas escolhas sempre difíceis.
Na angústia que me assola pela exigência de sempre acertar, um pensamento recorrente me alerta para o privilégio que é ter as vitrines imaginárias decoradas com cores, sabores, aromas e sons de uma vida que merece ser vivida. E nesse preciso instante nasce um outro EU, sempre finito.