O hino de Arapiraca e a era do rádio e seus profissionais

O radialista José de Sá, em seu estúdio, instalado na própria residência, localizada na Praça Marques da Silva, no Centro.Foto: Arquivo

Este trabalho acerca da memória de Arapiraca visa oferecer conhecimento do nascimento, crescimento e desenvolvimento desta terra, antes um planalto e hoje o maior município do Estado, que completará logo, logo cem anos de emancipação política (2024). Seus filhos, naturais e adotivos, continuam elevando a terra conhecida como de Manoel André, fundador e primeiro a acreditar em sua pujança. Foram compilados trabalhos e pesquisas de historiadores e estudiosos do município, como Valdemar Oliveira de Macedo e Zezito Guedes, entre outros, conhecedores profundos do povo e das terras desta parte de Alagoas.

Nesta edição, apresentamos o Hino de Arapiraca, letra de autoria do professor Pedro de França Reys, música do maestro Nelson Palmeira; Hino da Independência de Arapiraca, lei de autoria de Agripino Alexandre dos Santos (quando vereador do município); Bandeira de Arapiraca, de autoria da professora Isabel Torres, e o Brasão do município, também de autoria da professora Izabel Torres;.

O RÁDIO EM ARAPIRACA

Antes dessa profusão de emissoras de rádio, no início AM e hoje todas FM, Arapiraca foi uma das cidades alagoanas onde mais se desenvolveu o sistema de transmissão da palavra por meio de ondas elétricas. Desde 1944, quando chegou da Paraíba um técnico de cinema, o sr. José Gondim, para prestar assistência ao cinema Leão como técnico eletrônico (que funcionou ao lado onde hoje é o Banco Bradesco), que Arapiraca passou ase manifestar através de ondas hartezianas.  Seu projeto: inundar a cidade de alto-falantes. Por ser dispendioso, segundo o artista plástico J. Sá, o projeto não foi adiante.

Entretanto, em 1946, na administração de João Ribeiro Lima (que havia sido interventor), nova fase para o rádio em Arapiraca: a idéia do sr. José Gondim ressurgiu, com a instalação de um serviço de alto-falantes na rua do comércio, conhecida como cais de Manoel Leal. Era o Serviço de Alto-falantes da Prefeitura Municipal, na voz de Cyra Ribeiro, filha do interventor e a primeira mulher a falar naquele sistema de som. A primeira música tocada foi ”Pelo telefone”, às 10 horas da manhã do dia 30 de outubro.

                – Aqui é o serviço de alto-falantes da Prefeitura Municipal de Arapiraca, a voz do povo, dizia a locutora (conhecida como speak).

O povo que ouvia aquela maravilha estava extasiado (o serviço de alto-falantes da prefeitura funcionou até 1948, com o estúdio vizinho ao mercado da farinha, local onde hoje é o Hotel Real, atual praça Manoel André).

A partir de 1948, na gestão Luiz Pereira Lima, a prefeitura instalou diversas “bocas de som”: em postes na Praça Gabino Besouro (hoje Praça Marques da Silva),  na esquina da Praça Gabino Besouro com a Rua Aníbal Lima,  (alí funcionava o estúdio e o locutor era o jovem Miguel Valeriano da Silva).

Com a posse do prefeito Coaracy da Mata Fonseca em 1951 (genro de Luiz Pereira Lima), o “locutor” Miguel Valeriano foi ser secretário geral da prefeitura, assumindo o cargo de locutor o estudante Ivan Rodrigues. Surgiu, então, a figura de J. Sá, autor da prece do Ângelus, que era lida diariamente às 18 horas. Com a inauguração do cine Trianon (de propriedade do vereador José Barbosa), em 1952, J. Sá foi convidado para ser o locutor oficial do cinema, que tinha duas cornetas de som, e anunciar os filmes.

Com a saída do prefeito Coaracy da Mata Fonseca, o serviço de alto-falantes do município arrefeceu. J. Sá, então, com a ajuda inestimável de José Gondim, instala em sua residência o serviço de alto-falantes Tupã (os discos de vinil eram emprestados pelo futuro juiz Nelson Rodrigues Correia). Em 1953, J. Sá conseguiu um transmissor e passou à época do rádio, que conseguia levar o som ao centro e bairros próximos ao estúdio (já com licença do Departamento dos Correios e Telégrafos, encarregado da fiscalização das rádios). Em 1954, o serviço de alto-falantes passa a ser chamado de rádio Tupã. Pouco tempo depois, a convite de José Renato, diretor da Rádio Difusora de Alagoas (emissora oficial de Alagoas), J. Sá passou a ser mais um locutor daquela emissora, até que, a convite e oferta do gerente do Banco da Lavoura de Minas Gerais S. A. em Arapiraca, sr. Euzébio Santos, recebeu um empréstimo bancário para compra dos transmissores da rádio Tupã, passando a proprietário.

Em 1961, a convite do deputado estadual Claudenor de Albuquerque Lima, o radialista J. Sá passa a fazer parte do cast da rádio Cultura de Arapiraca, que tinha como diretor administrativo o próprio deputado, como diretor geral, José de Sá, e como diretor artístico o radialista e político alagoano Castro Filho (depois, vereador em Maceió), com estúdio e transmissor no bairro São Luiz (antiga Fazenda Pernambucana). Eram radialistas: J. Sá, José Benedito Silva, o JBS, José Barbosa das Neves, o “Barbosinha” e Siloé Limeira.

Houve, ainda, por poucos períodos algumas emissoras clandestinas em Arapiraca, a exemplo de: Rádio Cruzeiro de Arapiraca, de propriedade do  Benedito Umbelino; Rádio da Igreja Batista de Arapiraca; Rádio Assembleia de Deus; Rádio Duque de Caxias, da comunidade rua Duque de Caxias; Rádio Holanda Musical, de Propriedade do técnico eletrônico José Holanda Ferreira.

A rádio Cultura de Arapiraca funcionou até 1964, surgimento da militarização brasileira, quando encerrou suas atividades. Neste mesmo ano, tendo à frente da municipalidade o prefeito Francisco Pereira, e secretário geral da prefeitura o advogado Miguel Valeriano, surge a rádio Antena de Publicidade, que passou a funcionar na rua Camilo Collier, por trás da sede da municipalidade (o estúdio e o transmissor foram montados pelo técnico em eletrônica José Gomes, o Dedé.

Durante o governo municipal de João Lúcio da Silva, com seu filho Narcizo Lúcio como secretário geral da Prefeitura, o estúdio da Antena de Publicidade passou a funcionar na avenida Rio Branco, onde hoje é a Biblioteca Municipal (eram locutores: J. Sá, José Benedito Silva (o JBS, também conhecido como “a voz de ouro”), Albênzio Perrone (comentarista esportivo), Jurandir Vieira (locutor esportivo), Sebastião Cândido, Miriam Ferreira, João Rocha, Joana Vieira, a Joaninha; como controlistas: Valdemar “Testinha”, Zé do Rojão, Humberto Oliveira, o “garoto”, ex-centro avante do ASA, José Reginaldo Silva, conhecido como “Radar” e George Sá, irmão de J. Sá), até quando teve lacrado seu transmissor pelo Departamento Nacional de Telecomunicação – Dentel. Com o fechamento da rádio Antena de Publicidade, os ex-prefeitos Francisco Pereira Lima e João Lúcio da Silva, o ex-secretário da prefeitura Narcizo Lúcio da Silva, o ex-secretário de Educação e Saúde, Manoel Lúcio Sobrinho, passaram a responder processo junto a Justiça Federal, cujo juiz era o Dr. Pedro Acyoli.

Depois de todo este périplo radiofônico, Arapiraca somente veio a ter uma emissora de rádio em 1976, com o surgimento da rádio Novo Nordeste. Aí, é outra história.

A contribuição dos que vieram de fora

Izabel Torres de Oliveira (1924/2004) (Foto: Arquivo)

Nasceu em Viçosa, Alagoas. Professora formada pela Escola Normal de seu município, já aos 11 anos de idade seguiu uma carreira que a fez estar nas salas de aula de Taquarana/AL, até chegar em Arapiraca/AL para assumir a direção da Escola Adriano Jorge. A partir daí, sucederam muitas outras. Percorreu várias matérias, oferecendo aos alunos desde aulas de Português, Literatura ou até mesmo Desenho – mais um de seus talentos. É de sua autoria, por exemplo, a criação da Bandeira e do Brasão do município de Arapiraca. É, também, autora da gramática “Flor do Lácio”, obra importante no ensino do português. Aprovada em 1º lugar no Concurso de Juiz de Direito da 1ª Entrância, no Tribunal de Justiça de Alagoas, foi, infelizmente, preterida sua nomeação por questões políticas e também pelo fato de ser mulher (ela seria a 1ª juíza de direito de Alagoas). Insatisfeita com a aposentadoria compulsória conquistada em 1997, resolveu criar o Colégio Arcanjo Mikael. Um impulso para que desse início a concretização de mais um sonho. ”Devo ter sido chamada de louca”, comentou em sua autobiografia. Assim, através de sua tenacidade, viu aprovada e implantou a 1ª Faculdade de Direito do interior de Alagoas, o CESAMA.

Nelson Palmeira (1910/1995)

Nascido em Traipu. Viveu sua vida quase toda em Arapiraca. Foi o autor da música do Hino de Arapiraca. Saxofonista da Banda da Polícia Militar, chegou em Arapiraca no ano de 1952, onde fundou a Banda Musical da cidade, e participou, como maestro, da orquestra de bailes do Clube dos Fumicultores. O maestro Nelson Palmeira também fundou os conjuntos “NP7” (sigla de Nelson Palmeira e os 7 Músicos) e os “Notáveis”, grupo musical que fez bastante sucesso em Alagoas, nos anos 1960.Tinha bastante cuidado com seus músicos na famosa Banda de Música Municipal. “Cuidado, não quero ninguém fora do tom. Prestem atenção nas partituras”, dizia ele, apontando para um pedestal que ficava logo a sua frente quando estava regendo a bandinha. Os grandes carnavais de Arapiraca, nas décadas de 1970, 80 e 90, o maestro Nelson Palmeira, com a sua bandinha de Frevo, animava os foliões e as noites de Frevo nos clubes da cidade.

Pedro de França Reys (1907/1975)

Filho de Igreja Nova, onde nasceu em 1907 (à época, chamava-se (Triumpho). Veio para Arapiraca e, como professor estadual e ex-seminarista, foi nomeado para dar aula no Grupo Escolar Adriano Jorge, conquistando a simpatia e a confiança do povo arapiraquense. Era austero, porém gentil. Em 1943, deixou de ser professor estadual, fundando o Instituto São Luiz e, com o apoio de um jovem arapiraquense, Manoel de Oliveira Barboza, tornou-o um estabelecimento de primeira grandeza no ensino primário. Participou ativamente da vida cultural de Arapiraca, sendo autor da letra do Hino de Arapiraca e do Hino do ASA, além de várias páginas literárias. Inúmeros arapiraquenses passaram pelas bancas do Instituto São Luiz, hoje uma simples lembrança.

Foto: Divulgação

A Bandeira é um dos símbolos oficiais de Arapiraca, município de Alagoas. Foi concebida por Dr. José Moacir Teófilo (educador), vereador Higino Vital da Silva e professora Isabel Torres de Oliveira. Foi oficializada em 29 de agosto de 1964, através do projeto de Lei n.º 20/64, durante a gestão do prefeito Francisco Pereira Lima, através da Lei n.º 20/64. Significado: Verde – os campos fumageiros; Branco – a paz e o caráter do povo; Amarelo – a riqueza legada pelo fumo.

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Autoria: Professora Isabel Torres de OliveiraFoi sancionado pelo prefeito Francisco Pereira Lima e faz parte da Lei no. 20/64. Significação do brasão: A coroa mural – é o símbolo da cidade. As cinco torres – de prata porque não é capital do Estado. A coroa de ouro – é o símbolo da Princesa do Agreste. A árvore – significa na sua origem o encontro de Manoel André com uma árvore frondosa que se chama Arapiraca e que naquele tempo cobria um raio de cinqüenta metros quadrados. O listeu – nele temos a cor vermelha, branca e azul do Estado de Alagoas, mostrando que Arapiraca é um município deste Estado. Os ramos de fumo e mandioca – representam os principais produtos do município.

Uma Estrela radiosa Hino de Arapiraca (Lei Municipal no. 36/61) Letra: Prof. Pedro de França Reys, datilografada pelo próprio em uma máquina Remington. Música: Maestro Nelson Palmeira

Fonte: Eli Mário e Manuel André

Produção Editorial: Roberto Baía e Carlo Bandeira