PINTOU UM CLIMA

Aqui é sempre verão e o calor da alma se assemelha aos dos corpos sob o sol de 30 graus do Nordeste. A sedução está na natureza do lugar. Dos imensos azuis às áreas de recobrimento do cristalino por sedimentos, todos os espaços acolhem bons sentimentos. 

Ademais, os diversos sotaques têm sonoridades que acendem a libido e as canções por nós produzidas induzem a rodopios encantadores. Nossos ritmos e as cores das nossas vestimentas sugerem que a alegria foi conquistada e ali fez morada, mas não vive sozinha, compartilha todos os seus dias com o respeito e a esperança. 

A esperança é idosa, mas se engana quem aposta na sua fragilidade. Nos últimos embates eleitorais com o medo, saiu vencedora e foi necessária a reunião dos piores sentimentos, que habitam lugares frios e escuros, para usurparem seu pódio e, depois disso, iniciarem a destruição do bem-estar coletivo, no Brasil.

Estamos agora lutando mais uma vez ao seu lado porque como disse um dos nossos poetas, “não preciso que me digam de que lado nasce o sol porque bate lá meu coração” e o som que ele produz é o dos diversos instrumentos das trabalhadoras construindo um lugar que abriga a todos. Um lugar parecido com o nosso Nordeste.

Mas não se pode esquecer que os lugares frios e escuros permanecem habitados pela misoginia, pelos preconceitos e volúpias criminosas. Por lá pintam climas que não cabem no nosso abrigo e dos quais seremos sempre opositoras. 

Entretanto, equivoca-se quem acha que o frio é sempre escuro. Há muita luz vinda do outro lado do Atlântico e ela reflete Simone de Beauvoir a bradar “que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja nossa própria substância, já que viver é ser livre”. Assim, nenhum homem, independentemente do lugar que ocupe na sociedade, ao se deparar conosco nas esquinas da vida, dirá quem somos. Além disso, desde já declaramos que venezuelanas, ucranianas, brasileiras, mulheres do mundo, nenhuma de nós está a serviço de suas frágeis masculinidades.

Somos todas contra todo e qualquer tipo de violência. Seremos especialmente rigorosas com os crimes que têm como vítimas outras mulheres e, incomplacentes quando elas ainda forem meninas. Por elas, mas também por nós. Porque a violência contra elas nos violenta e, em razão disso, no dia 30, derrotaremos a aversão e o ódio às mulheres e a libidinagem criminosa.

Fonte: Jornal de Arapiraca/ Lúcia Barbosa