Os leitores e leitoras têm dividido os meus textos em matérias políticas e artigos com poesia.
Alguns falam de suas preferências pelos que tratam de políticas públicas ou que são críticos ao governo porque trazem indignações que também são suas, como o Mito da Esperança Encarcerada, Olhem para a Fome, Estado Democrático de Direito Sempre, O Reino da Lorota, entre outros.
Por outro lado, são textos como os Não é Humano é Divino, Jornada Arriscada, O Presente Salvo pelos Leitores, A Paz Mora ao Lado que agradam àqueles que encontram neles poesia.
Embora considere interessante essa divisão, entendo que na sua origem está a minha incompetência em mostrar que na poesia há política e na boa política tem muita poesia.
Antes de iniciar essa tarefa a que me impus, devo deixar claro o que pra mim é poesia. Não é conceito próprio, li em algum lugar e guardo pleno acordo com ele: poesia é toda arte que comove, que alcança sua alma e te emociona.
Penso que entre nós não há quem discorde que quando Chico Buarque diz que ‘apesar de você amanhã há de ser um outro dia, eu pergunto a você onde vai se esconder da enorme euforia’ não está apenas falando do tempo futuro que sempre virá. Está, em versos, mostrando sua discordância do projeto político instalado e apontando para dias melhores para os brasileiros quando ele for derrotado. É poético e é político.
Da mesma forma, ao ler Carlos Drummond ‘aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan’ encontramos a desaprovação do modelo de gestão que põe à margem da sociedade milhões de pessoas em favor de um pequeno grupo, e a certeza de que apenas um outro projeto coletivo será capaz de derrotar as injustiças. Isso é política sem deixar de ser poesia, do gênero elegia.
Os poetas citados nos ensinam que a política é a disputa de opiniões e projetos que têm influência direta ou indireta em nossas vidas. Como eles, Aristóteles, na antiga Grécia, defendia que o principal objetivo dela é a felicidade das pessoas. E aqui já me sinto abraçada pela boa política, que é arte e é poética posto que toca profundamente minh’alma, imagino que também a sua.
Da mesma forma, comove-me e me enche de diferentes emoções a frase do religioso Desmond Tutu ‘se você fica neutro em situações de injustiça, você escolhe o lado do opressor’. Nela está clara a existência de duas propostas, a que oprime e a que liberta e a indicação de qualquer que seja a sua escolha, ela será política.
Devo chamar atenção para o fato de que, no parágrafo anterior, nos encontramos com um não poeta fazendo poesia e com alguém que não disputou cargo elegível do Estado, mas foi ativo na política nos colocando como co-responsáveis pelas condições de vida do nosso povo. Portanto, somos políticos e, quando optamos pelos planos de governo que colocam o povo no orçamento do Estado, temos a chance de também fazer poesia.
As políticas de aumento do salário mínimo acima da inflação; fortalecimento do Sistema Único de Saúde; combate à fome; transferência de renda com estabilidade e previsibilidade entre outras são capazes de diminuir as injustiças de que falava Drummond e contribuir para alcançar o objetivo da política destacado por Aristóteles. O resto é uma imbroxável e pornográfica canalhice que usa como refúgio a mentirosa fé religiosa e o falso nacionalismo.