Primeira arapiraquense maratonista com mais de 60 anos ultrapassa desafios

Foto: Roberto Baía

Já passou o tempo em que idade determinava o que uma pessoa era capaz ou não de fazer. O exemplo disso é Maria do Carmo Cruz da Hora. Carminha, como é conhecida, é a primeira mulher alagoana a ser maratonista e ultramaratonista com mais de 60 anos, no auge dos seus 64 anos. Contando com a fé em si mesma, coleciona 72 troféus e 203 medalhas e a esperança de chegar ainda mais longe.

Hipertensa e sem praticar nenhuma atividade física, Carminha teve o contato com o esporte tardiamente, aos 60 anos participou da 1ª Corrida Sagrada em 2018, realizada pelo Colégio Sagrada Família, na modalidade de caminhada. No local, ao ver as pessoas correndo, se animou e fez ali a sua primeira corrida de dois quilômetros. “Eu trabalhava em dois hospitais, não tinha tempo. O Colégio Sagrada Família promoveu essa caminhada e corrida, eu me inscrevi para fazer 2 quilômetros caminhando, só que quando eu vi aquela multidão de gente correndo, aí eu não segurei e fui atrás. Nessa corrida eu já consegui fazer o percurso bem, mesmo sendo sedentária. As pessoas ficaram preocupadas por eu ser idosa e hipertensa, mas eu concluí tranquilo. O organizador do evento me disse que eu tinha condições de me tornar atleta, na segunda corrida eu já fui pódio. Se na primeira eu tivesse me inscrito na minha categoria, eu teria sido pódio já na primeira”, relembra. 

Desde então, Carminha não parou mais, tem participado de todas as maratonas que consegue, fazendo até empréstimos para conseguir se deslocar para outros estados para participar das competições. Carminha já é reconhecida entre os atletas, sempre levando as bandeiras de Alagoas e Arapiraca, para representar sua região, e um chapéu de couro, para ressaltar a força da mulher nordestina. Petrolina, Linhares, São Paulo, Aracaju, Natal, Recife, Caruaru, Belo Horizonte, Gramado e até Rio de Janeiro, na Corrida de São Silvestre, são alguns dos locais que a maratonista já competiu. 

Ela contraria as expectativas, a descrença na sua capacidade e corre contra as adversidades. Em Linhares, Espírito Santo, competiu contra atletas reconhecidas e acostumadas com o esporte, ouviu de todos que seria muito difícil e que talvez ela não conseguiria. A atleta sente a falta de mais incentivo e apoio, nessa maratona correu com o tênis rasgado, deu o seu máximo e alcançou o 2º lugar no pódio. “Se eu tivesse incentivo financeiro mesmo eu já estava longe, porque roupa, tênis e suplementação são caros. Eu fui para a corrida de Linhares e já me disseram logo que a despesa era grande e que não tinha muitas chances, porque tinha atletas do Brasil todo, até atletas olímpicas, mulheres que tem uma história na corrida e eu ainda não tem essa bagagem, mas eu fui mesmo assim, juntei os trocados, cheguei lá com tênis rasgado em duas partes e pensei ‘Meu Deus essas meninas cheias de estrutura, e eu aqui sem nada’. Quando eu cheguei nos 3 km, eu disse ‘mulher tu pode, tu vai atrás não vá se deixar com a cabeça porque elas são fortes, você vai’. E aí eu fui e cheguei em segundo lugar”, conta orgulhosa da sua própria trajetória.

A atleta se prepara para mais um desafio, correr em pista de atletismo, território em que ela nunca participou, mas isso não a intimida. No sábado, Carminha irá para Paraíba em busca de mais uma medalha para Arapiraca, ela participará da IV Copa Brasil de Atletismo Master, em João Pessoa.

O que ainda falta, segundo ela, é mais apoio e incentivo para que a mesma possa se dedicar exclusivamente ao esporte. A meta de Carminha é conseguir participar da Maratona Internacional, em setembro, em Buenos Aires, Argentina. Ela ainda não sabe como vai, mas está confiante de que conseguirá levar Arapiraca para além do Brasil. 

Para aqueles que querem iniciar a prática de atividade física, Carminha tem sido uma inspiração e incentiva a todos a buscarem movimentar o corpo. “Nunca é tarde para você iniciar atividade física, só tem a ganhar. Hoje, o meu sono e meu humor são melhores, antes eu tomava três remédios para hipertensão, agora ou só tomo um porque hipertensão é uma doença para sempre né. Se você não quiser ter a loucura que a Carminha tem, comece com 2km, pratique algum esporte”, brinca a atleta.

Fonte: Jornal de Arapiraca/ Lysanne Ferro