– Aceitas tua eleição canônica para Sumo Pontífice?
– Sou um grande pecador, mas confio na misericórdia e na paciência de Deus; no sofrimento, aceito.
– Como queres ser chamado?
– FRANCESCO. E assim inicia o pontificado do argentino Jorge Bergoglio, o Papa Francisco.
♪Senhor, fazei de mim um instrumento da Vossa paz♪
Elisabetta Piqué, autora do livro Papa Francisco: Vida e Revolução, de onde foi retirado esse diálogo, afirma que a escolha do nome causou espanto: ‘ninguém jamais tinha ousado escolher semelhante nome, que leva em si uma mensagem clara, direta, forte, um programa de governo”. Mas quem conhece Jorge Bergoglio não se espantou. O jovem Jorge optou pelos pobres antes mesmo de entrar no Seminário. Ainda no Colégio confessou aos amigos: – vou ser jesuíta para estar com as pessoas, nas favelas.
♪Onde houver desespero, que eu leve a esperança♪
Diariamente, Francisco, embora não possa estar fisicamente entre os pobres, reafirma essa decisão usando a sua posição de Líder da Igreja Católica para conclamar a todos a se envolverem na construção de uma sociedade orientada para a liberdade, a justiça e a paz com o objetivo de superar as desigualdades e as discriminações e pôr fim a escravidão. “A justiça social requer que lutemos contra as causas da pobreza, da desigualdade, da falta de trabalho, de terra e habitação; contra aqueles que negam os direitos sociais e laborais; e contra a cultura que leva a usar os outros, tirando sua dignidade”.
♪Onde houver trevas que eu leve a luz ♪
Partidário do desarmamento, o Papa não admite a defesa do uso das armas, dos negócios da guerra, do mercado da morte feita sobretudo por religiosos. Entende que para se alcançar o desenvolvimento humano é preciso evitar as lutas armadas. Em razão disso, propõe destinar o dinheiro usado para as armas para um Fundo mundial e com ele derrotar a fome, o que em sua visão evitaria algumas guerras e a emigração dos povos dos países mais pobres para os países mais ricos, onde muitas vezes são escravizados. “O ódio e a violência nunca são aceitáveis, nunca são justificáveis, nunca são toleráveis, e com maior força de razão para quem é cristão”.
♪ Onde houver ódio que eu leve o amor♪
Ambientalista, reforça que a emergência climática gera crises humanitárias que atinge com mais rigor os pobres. Por isso considera que uma verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem social, que deve integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o clamor da terra quanto o clamor dos pobres.
♪Onde houver erros que eu leve a verdade♪
A violência de gênero toca profundamente o religioso. Papa Francisco defende que o futuro da sociedade exige o amadurecimento de um profundo respeito pela dignidade de cada pessoa, qualquer que seja a sua condição e que a agressão contra as mulheres “é um crime que destrói a harmonia, a poesia e a beleza que Deus quis dar ao mundo”.
♪Onde houver tristeza que eu leve a alegria♪
Reconhecendo a nossa natureza falha e frágil, fala da dependência que temos um dos outros. Afirma que nossas fragilidades e vulnerabilidades nos fazem carentes “daquela atenção compassiva que sabe deter-se, aproximar-se, cuidar e levantar”. Entretanto aponta para a possibilidade de unirmos as nossa fraquezas e fazer delas uma força que melhora o mundo.
♪ Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado♪
A receita parece fácil, mas lhes advirto – não é. Misturarmos humildade, coragem, verdade, solidariedade, esperança e experimentarmos diariamente doses cada vez maiores dessa mistura mudaria o mundo, mas nos afastaria do nosso burro mas consagrado amor-próprio. Estamos preparados para isso?