Para um riacho em que as pessoas tomavam banho, lavavam roupas e pescavam, desde a sua nascente e banhistas curtiam as águas límpidas em sua foz, o Salgadinho, que virou o maior esgoto a céu aberto de Maceió, tem uma história intimamente ligada a urbanização da capital, que mudou totalmente suas características. Batizado como Maçayó, que na verdade é uma extensão do riacho Reginaldo, só ganha o nome de Salgadinho quando entra em contato direto com água do mar, na praia da Avenida.
A nascente, que ficava no Poço Azul, no bairro de Jardim Petrópolis, não existe mais desde 2006. Mas os vários braços da Bacia do Reginaldo cortam quase toda a cidade, passando por cerca de 10 bairros, fazendo parte da vida de mais de 300 mil pessoas que moram no Benedito Bentes, Santa Lúcia, Serraria, Gruta de Lourdes, Farol, Pitanguinha, Feitosa, Jacintinho, Vale do Reginaldo até, finalmente, despejar suas águas na Praia da Avenida.
Foi com a construção do Hotel Atlântico, próximo ao Centro, que o Salgadinho viveu sua época de glória. Porém, com o passar do tempo, o descaso público e a falta de consciência ambiental transformaram o riacho em um esgoto a céu aberto, constituído por lixo, mau cheiro insuportável e urubus compondo o cenário. Além disso, o desmatamento da vegetação nativa, a impermeabilização do solo e a explosão de poços artesianos particulares também são apontados por especialistas como os principais fatores de extinção da nascente e a morte do próprio riacho. Isso sem contar no crescimento habitacional nos bairros às margens do rio que, sem controle algum, foi realizando ligações clandestinas de esgoto que terminam por desaguar no leito.
No ano 2000, Kátia Born, então prefeita de Maceió e candidata à reeleição, chegou a mergulhar (dizem) nas águas do riacho para demonstrar que ele estava limpo, totalmente despoluído e sem nenhum risco à saúde humana, o que, evidentemente, não era verdade. Até hoje, 22 anos depois, o Salgadinho espera uma solução consistente e consciente. A recuperação do Salgadinho é um sonho antigo dos maceioenses que moram na região e também daqueles que circulam diariamente pelo local e são obrigados a conviver com o mau-cheiro exalado pelos esgotos despejados no riacho. Além de ser muito importante para o turismo, de forma geral.
Diante de tantas incertezas, foi que a prefeitura lançou o programa Renasce Salgadinho, orçado em mais de R$ 76 milhões, com o objetivo de desassorear e urbanizar o riacho, dando nova identidade ao local. O lançamento foi considerado um marco histórico para a capital e o pontapé inicial para o resgate daquele que já foi símbolo da cidade.
FONTE: JORNAL DE ARAPIRACA/
CLÁUDIO BULGARELLI