É melhor ser feliz do que ser triste. Alegria é a melhor coisa que existe. É assim como a luz no coração, disse Vinicius de Moraes, no Samba da Benção. Mas o Brasil esqueceu disso e hoje tem a população mais ansiosa do mundo. Mais de 9% dos brasileiros desenvolveram a ansiedade patológica, e 5,8% estão depressivos, segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS.
Diferentemente da ansiedade normal, aquela que sentimos no primeiro dia de trabalho em um novo emprego, por exemplo, e depois passa, porque é temporária, a ansiedade patológica e a depressão atrapalham diversas áreas da vida da pessoa. A preocupação excessiva e persistente, às vezes sem motivo; a fadiga; o sentimento de que algo ruim pode ocorrer a qualquer instante; a irritabilidade e a dificuldade para se concentrar impedem que as pessoas acometidas por elas desenvolvam atividades que antes realizavam diariamente.
Dan Chisholm, especialista da OMS para a saúde mental, considera que não há como definir um fator isolado para explicar esta alta taxa de transtornos de ansiedade e do quadro depressivo no Brasil, porque muitos fatores atuam em conjunto. Médicos e pesquisas desenvolvidas pelas universidades brasileiras concordam com isso e apontam que fatores socioeconômicos, como pobreza e desemprego; o estilo de vida nas grandes cidades, com a alta taxa de violência; e o uso excessivo de computadores e smartphones são alguns dos fatores com papel importante na construção desse cenário.
Em entrevista à BBC Brasil, Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, nos informa que o isolamento social decorrente da pandemia, às restrições ao trabalho; o medo de se infectar; sofrimento e morte de pessoas próximas foram fatores estressores que levaram à ansiedade e depressão. Não há como discordar disso. Há uma série de evidências que sustentam a conclusão a que chegou esta autoridade médica, entretanto parece somente fundamentada em reações individuais diretas aos impactos da pandemia.
Em oposição a posicionamentos como este, no estudo sob o título ‘Para uma sociologia do medo’, Frank Furedi apoiado em Norbert Elias, sustenta que as estruturas dos medos e ansiedades nunca dependem da natureza do indivíduo, são sempre determinados pela história e pela estrutura concreta das suas relações com as outras pessoas. E reconhece importante a conclusão que chegou Carr em relação ao tema. Carr reconheceu que a natureza das catástrofes e a escala de destruição sofrida pelas pessoas desempenham um papel crucial na forma como estas reagem, mas que esta reação não constitui uma resposta direta ao impacto, é mediada pelas normas, instituições e lideranças prevalecentes na comunidade.
Estamos, portanto, diante de afirmações que nos levam ao conhecimento que cultura, lideranças, normas e instituições têm papel importante na forma como reagimos a situações de estresse. Assim, podemos sustentar que o modo como o Estado brasileiro geriu as consequências da pandemia da Covid 19 e a liderança negacionista a que estávamos submetidos são também causas do agravamento do quadro da saúde mental dos brasileiros.
Isto posto é preciso como István Meszáros perguntar: quanto tempo pode a perversa normalidade de uma ordem socioeconômica e política antagônica manter sua dominação sem destruir a própria humanidade? Sem resposta para tal questionamento findo delirando esperançosamente, como o poeta Guilherme Moraes, em ‘Ruptura’ no livro Delírios da Esperança: poemas de um poeta perdido, disponível para a compra na Amazon, “Que rotina é essa que me sufoca em agonia? Tudo sempre igual. Dia, outro dia, mesmo dia… Quero ter falta do que talvez eu viveria. Sentir saudades de uma nova nostalgia”.