Pernambucano, adorava Recife e amava caju. Formado em Direito, escolheu ser o educador da esperança. A esperança que nos impede de desistir, que nos permite sonhar e nos impulsiona a buscar, a levantar e coletivamente fazer diferente.
Comemora-se esse ano o centenário desta esperança e destes sonhos. Não são quaisquer sonhos, são sonhos enquanto projetos transformadores da realidade. Viveu o educador da esperança para mostrar que ser sonhador é um direito, porque não há existência humana sem a preocupação com o futuro. Estamos, dizia ele, permanentemente projetando, arquitetando um lugar que julgamos melhor, que não está ali, mas está sendo gestado aqui. O sonhar e a construção desse novo lugar exigirão de nós posições favoráveis a uns e desfavoráveis a outros, significando que estamos realizando atos políticos – sonhar e construir.
Seu sonho fundamental era o da liberdade, não apenas pelo gosto de ser livre, mas para lutar pela justiça, pelo respeito ao direito que o outro e a outra tem de ser ele ou ela mesma. E pelo exemplo ensinou que “estar no mundo sem fazer história, sem por ela ser feito, sem tratar sua própria presença no mundo, sem pontos de vista sobre o mundo, sem fazer ciência, sem politizar não era possível”.
Tinha clareza da importância da autoridade para a existência da liberdade. Aliás, afirmava ele que a autoridade era uma invenção das liberdades individuais em permanente conflito. Teriam elas percebido que havia a necessidade de algo que as disciplinassem para que continuassem a existir. E, portanto, a disciplina seria o equilíbrio entre autoridade e liberdade. Havendo o desequilíbrio em favor das liberdades, surgiria a libertinagem, e em desfavor delas nasceria o autoritarismo. Sim, o autoritarismo é uma possibilidade e tristemente nos lembra que a história do Brasil é uma história de arbítrio. Mas, parecendo falar conosco no presente diz “o gosto da liberdade tomou conta dos brasileiros”. Ditadura nunca mais.
Acusado de sectarismo, respondia “jamais fui intolerante, eu tenho um gosto de respeitar as diferenças que me abre democraticamente no mundo e ao mundo”. Sim, o educador da esperança educava para a liberdade de ser o que se é, mas também para o respeito às diferenças. Era antes de tudo um democrata. Alguém que jamais seria contra a que se fizesse críticas ao seu pensamento. Ele levava a sério os argumentos contrários e isso o tornava uma pessoa acolhedora.
Assim, não desdenhe da pessoa que estudando o Senhor dos Sonhos discorde parcialmente ou até totalmente dele. Faça a questão que provavelmente ele faria – como você chegou a esse entendimento? E não se irrite com opiniões de quem não o conhece, aproveite o momento e apresente esse mestre que é o terceiro pensador mais citado do mundo em universidades da área de humanas, conforme um levantamento da London School of Economics, lecionou em várias Universidades como a de Harvard e a de Cambridge, recebeu muitos títulos de Doutor Honoris Causa, entre eles o da universidade de Oxford, mas que gostaria de ser lembrado como um sujeito que amou profundamente o mundo e as pessoas, os bichos, as árvores, as águas, a vida.
O Senhor dos Sonhos, o educador da esperança, da liberdade e da justiça, também nos ensina a amar.
“Eu recuso qualquer posição fatalista, diante da história e diante dos fatos. Eu não aceito expressões como ‘é uma pena que exista tantos brasileiros e brasileiras morrendo de fome, mas afinal, a realidade é essa mesma’. Não, eu recuso como falsa, como ideológica essa afirmação. Nenhuma realidade é assim mesmo. Toda realidade está aí submetida à possibilidade da nossa intervenção nela. O meu sonho é que nós inventemos uma sociedade menos feia, menos injusta, que tenha mais vergonha. O meu sonho é um sonho da bondade e da beleza”. Muito prazer, eu sou Paulo Freire.