Um levantamento do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC, em inglês) mostrou que 35 mil pessoas morreram na Europa entre 2016 e 2020 por infecções causadas por superbactérias, que têm resistência a antibióticos.
Segundo informações da RTP, o impacto na saúde de infecções causadas por esse fenômeno já pode ser comparado ao da gripe, da tuberculose e da aids juntas.
Os antibióticos são medicamentos que agem impedindo o crescimento de microrganismos e são importantíssimos para tratar uma série de doenças.
Nos casos identificados na Europa, algumas das bactérias mais resistentes observadas foram Acinetobacter, normalmente em pacientes já hospitalizados; Klebsiella pneumoniae, no trato gastrointestinal; e o fungo Candida auris, identificado em 2010 e já conhecido por sua resistência, capaz de causar infecções graves e se espalhar com facilidade em ambientes de tratamento de saúde.
Como antibióticos podem fortalecer bactérias?
O fortalecimento de bactérias por resistência a medicamentos pode ocorrer com todos os antimicrobianos: antibióticos, antifúngicos, antivirais e antiparasitas. O uso excessivo desses remédios, principalmente no tempo de uso, faz com que uma bactéria que era comum passe por uma mutação e se espalhe de forma evoluída.
O problema das superbactérias já é velho, mas está cada vez mais difícil controlá-lo. Tanto que alguns especialistas já consideram essa resistência como uma pandemia.
Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado em abril apontou não apenas o excesso e uso incorreto dos fármacos como problemas, mas também o descarte inapropriado deles, o que contamina o solo e a água.
O documento também alertou para que ações imediatas fossem tomadas, como otimizar o uso de antibióticos existentes, tomar mais medidas para controlar e monitorar infecções e proporcionar maior financiamento para novos antibióticos e tratamentos.
Outro estudo publicado este ano na respeitada revista científica Lancet também mostrou que 1,2 milhão de pessoas morreram em 2019 devido a infecções bacterianas resistentes e 4,95 milhões por razões semelhantes. Considerando 204 países, o trabalho considerou a resistência a antibióticos uma das maiores causas de morte no mundo.
“Esses novos dados revelam a verdadeira escala da resistência antimicrobiana em todo o mundo e são um sinal claro de que devemos agir agora para combater a ameaça. Estimativas anteriores previam 10 milhões de mortes anuais por resistência antimicrobiana até 2050, mas agora sabemos com certeza que já estamos muito mais próximos desse número do que pensávamos”, afirmou o coautor do estudo e professor do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington, Chris Murray.
Covid pode ter influenciado
Acredita-se que a pandemia de covid-19 possa ter contribuído para esse cenário, considerando que medicamentos como a azitromicina, por exemplo, tiveram um aumento de 150% de vendas em 2020, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Ainda que autoridades sanitárias tenham alertado sobre a ineficácia desse tipo de medicamentos, muitos rumores pairavam na época e qualquer remédio minimamente promissor estava sendo considerado para uso. Foi o caso também da cloroquina, que foi provada ineficaz em diversas ocasiões.