Uma tragédia anunciada. Assim se pode definir a debandada da região do Pinheiro, um dos quatro bairros, além de Bebedouro, Mutange e Bom Parto e parte do Farol, afetados pelo afundamento do solo causado pela extração de sal-gema pela Braskem que começou em 2018 quando tremores foram sentidos após fortes chuvas. Rachaduras surgiram e o risco de desabamento ameaçou a segurança de milhares de pessoas, forçando-as a deixarem seus lares. De lá para cá os números são assustadores.
Por exemplo, mais de 14 mil imóveis condenados em cinco bairros de Maceió. Após décadas de mineração, parte da capital alagoana ainda passa por um lento processo de afundamento do solo que abre rachaduras em ruas, prédios e casas, o que obrigou cerca de 55 mil pessoas a abandonarem suas residências e seus negócios. A tragédia urbana transformou áreas inteiras em bairros fantasmas, um problema que ainda está longe do fim, já que o solo continua afundando lentamente. Especialistas dizem que 10 anos é o tempo médio necessário à estabilização. Poderá ser mais ou um pouco menos.
Além disso, o afundamento em Maceió já atingiu 4.500 comerciantes e realocou até hospital, causando enorme prejuízo financeiro e humano. Mas agora até a fé dessas pessoas está sendo atingida, já que durante esses anos, os templos religiosos também foram atingidos. Sendo alguns deles históricos. Locais com anos de histórias e atos de devoção. Muitos desses espaços precisaram ser realocados e outros fechados, por estarem localizados nos bairros afetados pelo afundamento do solo – Bebedouro, Bom Parto, Mutange e Pinheiro.
Só de templos religiosos, houve a realocação de 35 espaços, e outros quatro estão em tratativas para a realocação, por estarem em áreas de risco definidas pela Defesa Civil, segundo informou a Braskem. A empresa não divulgou quais os templos realocados e os seus respectivos bairros. Os espaços religiosos podem ser igrejas católicas, evangélicas, centros espíritas, casas de religião de matrizes africanas, dentre outros.
A Arquidiocese de Maceió informou que três igrejas matrizes foram evacuadas nos bairros afetados pelo afundamento, passando, assim, a funcionar provisoriamente em novos locais, até que novas matrizes sejam construídas. A primeira desocupação aconteceu no ano passado, com a Igreja Menino Jesus de Praga, no bairro Pinheiro. As outras duas realocações aconteceram neste ano. Em outubro, a Nossa Senhora do Bom Parto e em novembro, a Igreja Santo Antônio, em Bebedouro, fechou as portas.
Igrejas evangélicas também foram atingidas. A Assembleia de Deus precisou realocar nove templos em Maceió desde 2019. Foram desativadas a AD Pinheiro, AD Bebedouro, AD Mutange, AD Vale Mundaú, AD Marquês de Abrantes e AD Jardim das Acácias, além da Sub Congregação do Mutange, de Bebedouro e do Pinheiro. Os espaços, atualmente, foram tomados pelas ruínas.
Além de tudo isso, existe o drama das famílias. Assim, justiça, é uma palavra comum que estampa os muros dos bairros. A empresa já pagou cerca de 1,2 bilhão de reais em indenizações, auxílios financeiros e honorários de advogados, mas, somente no terceiro trimestre de 2021 a Braskem teve lucro líquido de 3,5 bilhões. Até o momento, nenhum presidente, diretor ou responsável da empresa foi preso devido a esse crime socioambiental. A mineradora Braskem tem extraído sal-gema há quatro décadas embaixo de um território urbano, de modo extremamente irresponsável, o que se tornou a maior tragédia causada por mineração em território urbano do Brasil.
Fonte: Jornal de Arapiraca/ Claudio Bulgarelli