Xenofobia: o preço que se paga por uma vida melhor em Portugal


André Miranda – Portugal

Segundo a Comissão Para Igualdade e Contra a Discriminação Racial de Portugal, entre 2017 e 2021, as denúncias de xenofobia contra brasileiros em Portugal cresceram 505%


“Volta para tua terra” é a frase mais escutada pelos imigrantes vítimas do preconceito e xenofobia em Portugal. Em específico, o número de brasileiros imigrantes no país lusitano vem crescendo a cada ano. Segundo os dados do governo português, até setembro deste ano, foram registrados 392.757 brasileiros com manifestação de interesse para morar no país.
Da comunidade estrangeira morando em Portugal legalmente, os brasileiros representam cerca de 40%. Conforme o balanço do Itamaraty, solicitado pelo portal G1, atualmente a maior comunidade brasileira na Europa está em Portugal, superando o Reino Unido, em segundo lugar, com 220 mil. A língua comum entre os dois povos é um dos fatores principais para quem deseja uma melhor qualidade de vida fora do Brasil, mas o momento não tem sido fácil para muitos.

Relato das vítimas
Ainda de acordo o portal G1, a advogada Márcia Alcantara foi transferida do trabalho no Brasil para Portugal em agosto desse ano. De acordo com a advogada, os custos da mudança ficaram por conta da empresa, para além de ter sido contratado uma empresa de realocação para ajudá-la a encontrar um imóvel para o marido e os dois filhos. “A pessoa que estava me ajudando a achar apartamento para alugar era uma portuguesa muito experiente. Encontramos algumas opções na internet. Eu estava com ela quando ela ligou para um proprietário que, quando ela disse que era para cliente do Brasil, ele simplesmente começou a se exaltar”, conta.
“Ele disse que não alugava apartamentos para brasileiros, que são todos ‘fanfarrões’ e barulhentos, que colocam muitas pessoas na casa porque não têm condições, etc. Foi quando a portuguesa, com toda calma do mundo, disse que ele estava enganado, que eu era uma advogada, casada, com filhos e contrato de trabalho. Ao receber essas informações ele se acalmou um pouco e tentou voltar atrás, se explicar, mas aí quem não quis nem ver a casa fui eu, tamanho foi o desrespeito sem nem ao menos saber sobre minha história”.
O estudante João Vitor Costa de 24 anos, natural de São José dos Campos, interior de São Paulo, mora em Portugal, na cidade do Porto, há seis anos. Atualmente o jovem está realizando o curso de mestrado em Cinedivulgação da Ciência. “Eu vim para Portugal porque tinha a vontade de conhecer outro lugar, gosto da cultura e o povo, do jeito de viver dos portugueses. Ainda assim vejo, aqui em Portugal, a nova geração com a mente mais aberta. Esses casos de xenofobia têm muito a ver com o aspecto de idade e classe social. Na maioria dos casos, é o pessoal mais antigo do país, resultando nesse racismo estrutural que vemos”, explicou.
A carioca de Resende, que por questão de segurança não quis revelar o nome, foi ameaçada de morte pelo administrador do apartamento em que mora. Segundo ela, o valor pago é de aproximadamente R$2.500, 00 (550 euros mês) por uma suíte, próxima do centro da cidade do Porto.
“Eu pago um valor muito alto por um quarto, nosso salário mínimo é muito pouco para um aluguel tão elevado. O administrador veio me informar que o valor vai aumentar para 600 euros a partir do próximo mês, 2024, e que o dono era uma pessoa muito poderosa”, revelou.
“Para um bom entendedor poucas palavras bastam. O objetivo dele ter feito essa ameaça é porque o apartamento não é registrado no governo, logo o proprietário não paga impostos ao Estado e eu não o posso denunciar. Minha vida em primeiro lugar, vou procurar outro ambiente para morar”, disse.

Qualidade de Vida e Segurança
O estudante André Luiz também desembarcou em Portugal para realizar o curso de mestrado. De acordo com ele, após concluir o mestrado em Ciências da Comunicação, seguiu para realizar o doutorado, além de trabalhar nos tempos livres. “Vivo no Porto há quatro anos e tenho uma qualidade de vida relativamente superior do que estivesse morando no Brasil. Aqui não conseguimos fazer dinheiro, mas o que recebemos é o suficiente para ter uma qualidade de vida boa, frequentar lugares, fazer viagens e ter momentos de lazer. O ponto negativo, infelizmente, são os altos preços dos aluguéis. Os preços estão descontrolados no mercado imobiliário”, revelou o estudante.
Segundo o brasileiro, a segurança no país também é um fator muito positivo para os imigrantes. “A questão da segurança é muito positiva, sair à noite sem ter a sensação de que vai ser assaltado é muito bom. É um país tranquilo e sem muita confusão”, completa.
Como denunciar
Caso você sofra algum preconceito ou xenofobia, os imigrantes devem procurar a Comissão Para Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR), órgão do governo Português ou, também, é possível fazer uma queixa por meio do site ou pela Linha de Apoio ao Migrante.
Horário de funcionamento:
Segunda a sexta-feira das 9h às 19h. Telefone fixo: 808 257 257 (custo de
chamada local) ou Rede móvel: 218 106 191.
Vale destacar que o CICDR oferece apoio jurídico gratuito para quem precisar.