O encontro na fotografia de rua entre Dilma de Carvalho e Ducy Lima

A paixão pela fotografia de rua, da arte como iniciativa social e a simpatia pelo registro do cotidiano são alguns dos muitos pontos em comum das fotógrafas Dilma de Carvalho e Ducy Lima, integrantes da 5ª edição do Dossiê Fotografia Alagoana, série de matérias especiais do Blog Aqui Acolá que já está na sua segunda temporada. Além disso, as duas se conheceram num curso de introdução à fotografia e iniciaram os estudos e atividades praticamente no mesmo período. O Aqui Acolá conversou com as duas a respeito do que pensam sobre a fotografia alagoana.

Dilma de Carvalho – Alagoana de Maceió, Dilma de Carvalho encontrou na fotografia uma forma de terapia e a transcendeu para uma maneira de expressão de sentimentos e olhares direcionados ao mundo. Com pouco mais de três anos de atividades com a câmera, ela conta que o primeiro contato veio através de um convite especial. “Sou professora e quando eu estava muito angustiada e cansada desse meu trabalho, aceitei o convite do amigo fotógrafo Jorge Vieira para fazer a primeira oficina Fotografando Poesia”.

A partir daí, suas mãos viviam cada vez mais com a câmera e seus olhos olhando através das lentes. Ela conta que no início fotografava de maneira mais impulsiva. Suas influências fotográficas também remontam à utilização do preto e branco como referência artística. “Desde jovem ouvia falar em Sebastião Salgado e tudo que via dele me encantava. Quando comecei a frequentar as exposições aqui em Maceió, passei a conhecer nossos talentos e acabei tomando-os como referência para mim”, comenta. “Dentre eles o Jorge (Vieira), João Facchinetti, Celso Brandão (que já é ícone há muito tempo), Arthur Celso, Alberto Lima, hoje me encanta muito trabalhos como da Gabi Coêlho, Amanda Bambu, Luna Gavazza, entre tantas”.

Mas segundo ela, atualmente tomando como norte o caminho desejado por ela da fotografia documental, de rua e o fotojornalismo com viés humanista, quem mais tem lhe influenciado são nomes como Nair Benedicto, Evandro Teixeira, Ratão Diniz, João Roberto Ripper e Luiz Baltar. “Todos eles eu passei a conhecer mais a partir do Festival FOTOSURURU, daqui de Alagoas”.

A questão literária, tão presente na vida de Dilma, também é refletida em suas fotos. Durante esse período de estudos e prática do final de 2018 até agora, Dilma de Carvalho integrou algumas exposições coletivas na cidade. “A primeira foi a Mosaico Sururu (foto única), depois vieram a Fotografando Poesia e Narrativas Poéticas (frutos da Oficina Fotografando Poesia – ensaios com seis fotos), Urbanidade (tríptico), Fragmentos’19 (foto única elogiada por Celso Brandão), Ubuntu (foto única – FotoIfal)”.

Mais recentemente, uma foto sua foi selecionada para participar de uma exposição sobre Fotografia Preta dentro do festival alagoano Fotosururu. Para ela, apesar das dificuldades do mercado da fotografia artística em Maceió, os movimentos propostos pelos próprios artistas impulsionam e divulgam a fotografia e seus artistas.

Ducy Lima também é maceioense e, da mesma forma, começou fotografando através do celular, registrando e documentando aquilo que a inquietava positiva e negativamente em seu cotidiano. Já em 2019, inscreveu-se num curso de extensão de introdução à fotografia promovido pelo Instituto Federal de Alagoas, o FOTOIFAL, com as temáticas empoderamento feminino e empoderamento negro. “Nesse curso conheci Dilma e a partir daí passei a usar câmera fotográfica também”, diz ela.

Durante esses dois anos de atividades, Ducy revela que continua gostando de retratar o cotidiano em suas imagens, com isso veio também o gosto pela fotografia de rua e a simpatia pela fotografia documental. “Não sou muito ligada às técnicas, na minha opinião, o mais importante é conseguir expressar o que você quer comunicar, mas me atrai a liberdade poética da fotografia artística”, afirma. Além do estudo da fotografia, Ducy é funcionária pública e iniciou a faculdade de Ciências Sociais na Ufal, trancada atualmente.

Já integrou duas mostras coletivas de fotografia: a primeira exposição foi a Ubunto, no restaurante Baobá e a segunda foi a Fragmentos’19, promovida pela agência Fragma. “Também estaria na Fragmentos’20, mas por causa da pandemia não houve exposição. Além disso, uso o instagram para mostrar meu trabalho (@ducylima) ”.

Sua fotografia intitulada “Suspensão do tempo” foi classificada com menção honrosa na convocatória do festival Fotosuru 2020 na categoria foto única. Este trabalho compõe ainda a exposição virtual no Instagram do festival (@fotosururu).

Ainda em relação ao momento vivido decorrente da pandemia, Ducy comenta a dificuldade para a manutenção das atividades. “No cenário atual está complicado economicamente, mas vejo também superação por meio de ambientes virtuais, como exposições, festivais, lives e cursos”. 

Atualmente Ducy Lima, assim como Dilma de Carvalho, integram o Projeto Ruptura além de participarem da coordenação da Casa Alagoana da Photografia. “Aliada à fotografia de rua, também gosto muito de trabalhar com as imagens da nossa cultura popular”, diz ela. “Estou trabalhando atualmente em um projeto autoral com artistas de rua para ser divulgado futuramente”.

*Texto: Nicollas Serafim | Revisão: Iranei Barreto | Crédito das imagens: Wilma Marinho, Dilma de Carvalho e Ducy Lima | Diagramação: Michael Bandeira