O REINO DA TESTOSTERONA

Já escrevi sobre o risco que é a instalação do governo teocrático defendido pela extrema direita brasileira e no último domingo, no Rio de Janeiro, conhecemos um pouco mais dessa proposta. Pelas palavras proferidas o deus do momento não é brasileiro, mas como tem muita testosterona deseja fazer do Brasil um puxadinho de suas empresas, lugar este onde seus  adoradores esperam que a masculinidade nunca seja colocada à prova. Tal iniciativa, no geral, agrada muito aos patriotas de fé nacionais.

 Em resumo, nada mudou. A fé religiosa e o patriotismo continuam sendo os biombos onde tentam esconder seus reais interesses, que escapam quando abrem a boca, e eles morrem de medo da liberdade alheia,  sobretudo das mulheres. E isso explica o discurso antifeminista – que se opõe a igualdade das mulheres.

A extrema direita mundial historicamente elegeu o feminismo – luta pela igualdade jurídica,  política e social entre homens e mulheres – como adversário. Os extremistas de direita sabem que o antifeminismo está fortemente enraizado na sociedade e faz uso dele como estratégia política para ganhar simpatizantes às suas causas. Essa força antifeminista cresce ainda mais em tempos de crise econômica, porque os homens cujos padrões de vida e empregos estão ameaçados costumam usar o feminismo como o responsável pelas suas dificuldades, momento em que essa ideologia política predatória também ganha espaço. Engana-se, entretanto, quem considera que no reino da testosterona somente as mulheres serão prejudicadas. O antifeminismo é uma espécie de droga de entrada para as ideologias da extrema direita que é contra uma sociedade aberta e luta para restringir os direitos humanos fundamentais.

Empresas como a X, antigo twitter, do deus do momento, são os espaços preferidos para fomentar esses ideais opressores. Os celibatários involuntários, homens que não conseguem ter um bom relacionamento com as mulheres e alimentam um ódio profundo contra elas, por exemplo, sentem-se bastante à vontade nestas plataformas para vomitar seu sexismo – preconceito em razão do gênero. A misoginia – ódio às mulheres – engaja, há até quem sinta orgulho em ser sexista e misógino, e as redes sociais potencializam esse sentimento com o uso dos algoritmos na criação de bolhas, assim ele se torna além de tudo lucrativo. O ódio às mulheres potencializado é uma das razões para se defender a regulação destas empresas, proposta que assusta Elon Musk e aqueles que se ajoelham diante dele.

Se de um lado a radicalização da misoginia cresce, do outro aumenta a reação. Estudos realizados recentemente mostram uma tendência bastante confortável para os ideais da liberdade – as mulheres da geração Z, nascidas entre 1995 e 2010, são progressistas, feministas e se preocupam com as questões climáticas. Para o cientista político Wolfgang Merkel o que preocupa é a simpatia dos homens jovens pelos partidos simplistas e antiliberais que homenageiam os valores de uma masculinidade em declínio.

Um estudo realizado pela Genial/Quaest com 35000 entrevistados para a revista Veja confirmou essa tendência no Brasil. Aqui as mulheres de 18 a 60 anos estão mais abertas às mudanças do que os homens na mesma faixa de idade. Mas são as mais jovens que abraçam com mais convicção os valores progressistas. Para o cientista Felipe Nunes, diretor da Quaest, em entrevista a Veja, é um movimento que avança de uma geração para outra. Trata-se do recorte populacional mais progressistas do todos os tempos, diz a historiadora, especialista em igualdade de gênero da Unisinos, Veruska Lauriana, na matéria publicada pela mesma revista em março, deste ano. Essa tendência ficou clara nas últimas eleições presidenciais, apenas 20% de mulheres jovens votaram em Jair Bolsonaro. 

Os discursos no ato da extrema direita, no Rio de Janeiro, vão na contra mão dos interesses das mulheres e apostam num conservadorismo que oprime; desrespeita a legislação brasileira, pregando a desobediência de militares e; embora vestidos de verde e amarelo, os patriotas de fé veneram um bandoleiro estrangeiro que ataca instituições do país, na esperança que ele colabore com a implantação do reino da opressão.  As mulheres não deixarão!